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As palavras do bom baiano

Detesto me atrasar aos compromissos assumidos.

Prefiro chegar antes. (Mesmo que tenha que fazer hora, olhando as nuvens, até que a coisa toda aconteça.)

Hoje me atrasei.

Lamentável.

II.

Havia marcado às 8 da manhã com um grupo de alunos para consultoria de um trabalho de conclusão de curso. E acabei chegando quarenta e cinco minutos depois.

Não foi esquecimento, não. Foi mesmo uma leve indisposição ao levantar-me e tomar o bendito remédio para controle da pressão arterial.

Deu uma leseira daquelas que precisei deitar-me por alguns bons minutos. Até que a coisa se acalmasse e, minimamente, eu me sentisse inteiro.

Ainda com um zumbido no ouvido vim para a universidade para atender a turminha que pretende fazer um portal de informação sobre o futsal feminino.

Um bom projeto, creio.

III.

Eles foram bastante compreensivos com este velho rábula.

Desculparam o meu atraso e trocamos algumas figurinhas sobre o projeto que desenvolveremos a partir de junho deste ano.

Mesmo com a generosa compreensão do grupo, fiquei desenxabido que só com a primeira mancada da semana que dei.

Explico o meu desassossego.

Orientador e orientandos só combinam quando há uma efetiva relação de confiança entre as partes. Se logo no primeiro encontro, dou uma mancada dessas. Imagino o que a meninada ficará pensando?

IV.

Uma historinha que tenta explicar, mas não justifica a minha falta.

Há coisa de duas ou três semanas revi o excelente documentário, “Uma Noite em 67”, que narra os bastidores do mais famosos dos festivais da canção na TV Record. Aquele que Edu Lobo e Capinam venceram com “Ponteio”, Chico Buarque ficou em terceiro com “Roda-viva”, mas as grandes atrações foram mesmo as canções de Gil (“Domingo no Parque”) e Caetano (“Alegria Alegria”).

V.

Lá pelas tantas, o documentário mostra as coxias do teatro Record, dos apresentadores Blota Júnior e Sonia Ribeiro, a movimentação dos músicos, dos artistas – entre eles, Roberto (que defendeu “Maria Carnaval e Cinza”, a quinta colocada, de Luiz Carlos Paraná), Chico, Edu, Marilia Medalha, Elis (defendeu “O Cantador” de Nelson Mota e Dori Caymmi), Gil, Caetano; todos novinhos, jovens, na casa dos vinte e poucos anos.

Corta para a repórter perguntando para Caetano nos dias de hoje:

– Caetano, você sente saudade daqueles tempos?

A resposta de Caetano:

– Minha cara, não sinto falta de nada naquele tempo. A única coisa que gostaria de ter daqueles idos é a vitalidade da juventude. Aos 66 anos, a coisa toda não é tão simples assim…

VI.

A produção é de 2010. As filmagens devem ter sido feitas em 2008/9. Caetano é de 1942. Hoje quem tem 6.6 sou eu – e faço minhas as palavras do bom baiano.

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