Beatles ou Rolling Stones?
A pergunta é recorrente – e ouvida infinita vezes – por um sub-70, como eu.
Nunca hesitei na resposta.
Beatles, fácil.
Implicam no parecer questões existenciais e musicais.
Explico.
Para quem era garotão naqueles primórdios dos anos 60, garot suburbano do velho bairro operário do Cambuci, em São Paulo, sabe bem que balançou o bambuzal da mudança foram os rapazes de Liverpool. Deram voz e vez à juventude que, então, se vestia, pensava e comportava como mini-adultos.
Foi um impacto ouvi-los.
Foi uma sensação de liberdade vê-los no cinema. Eram como queríamos ser.
A frente de vidro do cine Riviera, na avenida Lins de Vasconcelos, não resistiu à fúria e ao avanço da garotada na primeira exibição do filme Os Reis do Iê-Iê-Iê.
Ficou em cacos.
Chamaram até a ‘guarnição’ policial (assim que dizia) para por ordem no quarteirão.
Para lhes ser franco, preciso ressaltar que nunca fomos exclusivistas. Ou este ou aquele.
Ouvíamos o que tocava nas rádios Excelsior ou Difusora, as primeiras a se ligarem em uma programação única para os jovens.
Ouvíamos o que pintasse. Beatles, Rolling Stones, The Monkees, Tree Dogs Night, Bee Gees, The Who, The Doors, The Animals, Cream, Beach Boys, Credence Clearwater, Ottis Reading, Jimmy Hendrix Experience, Jane Joplin, Bob Dylan, Cat Stevens, The Mamas & The Papas, Peter, Paul and Mary, Trini Lopez, Steppenwolf, Joan Baez, Joe Cockeer, Crosby, Still & Nasch, Jefferson Airplane, The Four Seasons, Procol Harun…
III.
Ouvíamos o que pintasse, como disse.
Mas, vou lhes contar um segredo, daqueles que se guarda a sete chaves.
Adorávamos esses caras, éramos beatlemaníacos, como se diziam, então. No entanto, sacudíamos o esqueleto e rasgávamos a voz ao som das ingênuas versões (ou melhor seriam adaptações) que o grupo Renato e Seus Blue Caps popularizou nas tardes de domingo, no programa Jovem Guarda.
IV.
Pode procurar.
Duvido que você encontre um, entre os da minha geração, que não saiba de cor a letra de “Feche os Olhos” (“All My Loving”) ou de “Menina Linda” (“I Should Have Known Better”)
Se você pedir para que o vovô ou a vovó cante um pedacinho, tenho certeza que verá no rosto deles o olhar sonhador de quem nunca esqueceu aqueles idos…