Foto: Caetano e o filho Tom/Uns Produções
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Leio num desses portais da vida que Caetano Veloso pensa em se aposentar.
Não sei se ‘aposentar’ é o termo adequado.
Quer voltar a morar na Bahia – nada contra o Rio de Janeiro onde hoje vive – e por lá ficar sem maiores compromissos. Sobretudo as cansativas temporadas no Exterior como, desde os anos 70, tem sido uma constante em sua magnífica trajetória.
Na ensolarada São Salvador, vez ou outra, o cantor/compositor (que em agosto completa 81 anos) toparia fazer uma ou outra apresentação (talvez acompanhado só pelo seu violão ou pelos filhos quando esses puderem) em teatros locais. Algo mais intimista, talvez. Sem maiores proporções e enroscos protocolares.
“Quem quiser me ver e ouvir que vá à Bahia.”
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Fiquei pensando nas idas e vindas da vida. Nos longínquos anos 60 quando vi, pela TV, Caetano Veloso pela primeira vez. Era apenas o irmão de Maria Bethânia e compositor da linda “É de Manhã” que constou do primeiro compacto gravado por Bethânia.
O disquinho vendeu horrores e a contundente “Carcará” (o lado A) foi uma das canções de maiores sucessos daquele ano.
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Gostei de “É de Manhã” de primeira.
Era relativamente fácil de aprender no violão que o amigo e contemporâneo Chiquinho Brandão esforçava-se em me ensinar. Nos versos retratava cenas que meu coração adolescente gostaria de viver – e, de resto, trazia um encantamento que não sabia explicar, mas me cativava.
Daí por diante gostar de Caetano (e fazer de suas incríveis criações trilhas sonoros para momentos que vivi) me foi inevitável.
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Já lhes contei aqui, mas torno a repetir.
Tinha lá meus 18 anos.
Havia acabado de ser dispensado por ‘excesso de contingente’ do glorioso exército nacional (o pai de um canarinho cantador para um coronel amigo dele e a mana Rosa fez a promessa de acender uma vela do meu tamanho na igreja Nossa Senhora da Penha. Promessa nunca paga, registre-se).
Precisava arranjar um bom emprego – e lá fui eu fazer um teste no Banco Português do Brasil, ali, na Avenida Paulista.
Fui bem pra caramba nas provas escritas – e me chamaram para uma entrevista.
Tudo transcorreu tranquilamente.
Estava certo da minha aprovação.
Até que o entrevistador me pediu para escolher três personalidades do mundo de então.
Não vacilei na resposta.
Martin Luther King
O engravatado à minha frente balançou positivamente a cabeça.
John Lennon.
O moçoilo franziu a testa.
E eu, crente que estava agradando, tasquei o terceiro nome:
Caetano Veloso.
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O Banco desapareceu da Paulista, virei um maljambrado tocador-de-letrinhas e nunca fui chamado para o trampo.
Coisas da vida.
Escolhas.
Que fazer?
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Mas, se alguém ainda hoje me pedir que cite três das minhas maiores admirações, é provável que eu trocasse os outros dois nomes. Mas, o terceiro, acreditem, será o baiano Caetano Veloso, cuja obra ainda hoje me cativa e encanta.
É isso…
No que depender de mim, farei um esforço danado para ir a Bahia ouvir Caetano cantar “A Lua e Estrela”, “Você é Linda”, “Alegria, Alegria” e outras tantas canções.
“É de Manhã” é a minha preferida.
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O que você acha?