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Com o amigo Escova no zap

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Foto: Arquivo Pessoal

Uma conversa, dias atrás, com o amigo Escova no zap.

Discutíamos se, em nosso tempo de jovens repórteres, éramos ingênuos demais por acreditar que nossos textos poderiam, de alguma forma, mudar o mundo para melhor.

Meados dos anos 70 e, vá lá, início da década seguinte.

Falávamos em bem comum.

Falávamos nos pilares do jornalismo: o respeito à verdade factual, a função fiscalizadora e a postura crítica do jornalismo.

Acreditávamos priorizar o interesse público.

Ingênuos?

Desconfio que sim.

Vivíamos em outro mundo, é bem verdade.

Um mundo sem as tais redes (anti)sociais.

Escova faz questão de realçar que fazíamos o que fazíamos apesar do contexto autoritário de uma ditadura e de total desrespeito ao direito do cidadão.

Talvez embalados pelas canções de então, éramos levados a imaginar “todas as pessoas vivendo a vida em paz” (como diz a letra de Lennon) e a buscar “o sonho que se sonha juntos é realidade” (como proclamava o acalanto de Raul Seixas).

Diziam que éramos sonhadores.

E, cá para nós, considerávamos tal condição um gratíssimo elogio.

Digo ao Escova que talvez tenha sido este o nosso equívoco.

Embora reconheçamos as conquistas que se deram a partir de então – a redemocratização do país, as eleições diretas em todos os níveis, o resgate dos direitos inalienáveis de todo e qualquer cidadão, o fim da censura, a organização de uma sociedade mais aberta e inclusiva, a ação dos movimentos populares, entre outros avanços – houve um momento que a coisa toda começou a andar para trás.

Quando nos demos conta da encrenca, já era tarde demais.

Lembrei ao Escova a profecia que fez ao se voluntariamente se autoexilar na periferia de Paris assim que se constatou o impeachment da presidente Dilma Rousseff naquela deplorável sessão da Câmara Federal em 17 de abril de 2016.

Antes de partir, o amigo-profeta sapecou a célebre frase:

“É a barbárie, meu caro, é a barbárie que se aproxima.”

Não era profecia, não – me diz o amigo:

“Era só a ponta do iceberg do que vem por aí inapelavelmente ao nosso encontro. No Brasil e, creia amigo, no mundo todo.”

Ele acrescenta, pelo zap, como disse direto do seu posto de observação, nos arredores da Tour de Eifel:

“Estou certo que, naqueles idos, quando corríamos atrás dos fatos, mais do que sonhadores éramos quixotescos. Corremos enfrentar moinhos de ventos que nunca existiram. E esquecemos de enxergar a realidade do mundo que sempre foi feita de guerras e disputas. Que os poderosos sempre estiveram no controle e nunca desistem. Mesmo assim, amigo, temos de acreditar e seguir atentos”.

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