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Crônica de uma CPMF só

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Foto: Cites

A demissão do secretário da Receita Federal, o Sr. Marcos Cintra, da forma como aconteceu, parece desnudar um racha no governo da nossa combalida e chamuscada Toscoland – e mais e/ou pior: ali, no eixo duro do poder, não se fala mais a língua dos anjos.

Alguns setores estão em rota de colisão enquanto o Chefão bate no peito e se arvora:

Quem manda aqui sou eu.”

Sei que este não é um tema que costuma aparecer por aqui, no Blog.

Peço vênia, no entanto, aos caríssimos leitores – e insisto em meter minha colher de pau nesse ralo angu que é o (des)governo onde nos metemos, ô ironia!, pelas urnas e de forma democrática.

Se me permitem, explico a seguir.

Foto: Agência Brasil

Lembro o Sr. Cintra ainda dos tempos em que eu era repórter e ele um economista com fama de ter se formado em Harvard University, muito ligado à Associação Comercial de São Paulo, às elites dominantes e dando seus, digamos, primeiros passos numa carreira pública.

Foi vereador em São Paulo, depois deputado federal. Ocupou cargos na área de finanças e planejamento em diversos governos e administrações, inclusive aqui onde moro em São Bernardo do Campo.

Detalhe precioso: sempre e sempre o Sr. Cintra teve como bandeira o Imposto Único e ao que foi (e ameaça ser) a CPMF rediviva.

Ou seja, quem o trouxe para o ninho sabia muito bem quem era o Sr. Cintra, o que pensa e o que sempre pretendeu. O que dá a entender que estavam afinados no mesmo discurso e propósito: resgatar a famigerada CPMF.

Por isso, acho esse pé no traseiro que levou o dito Sr. bastante representativo dessa nova ordem política e social que tenta se implantar no país:

Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Trocando em miúdos:

Há um autoritarismo latente – e em crescente escala – a partir de Brasília. Ou mesmo do leito de um hospital. Dizem que foi de lá que o homem deu a ordem para defenestrá-lo.

A causa, para consumo externo, foi uma entrevista em que membros da equipe do Sr. Cintra deram como certa a adoção da famigerada CMPF na base de 0,4 por cento de toda e qualquer operação realizada, inclusive o dim-dim dos dízimos das igrejas.

Ops.

Não foi só por isso, creio; mas pode ter sido também por isso.

O gesto tem nítida e clara repercussão eleitoral.

Ao que consta, a decisão pela CPMF estava tomada em diversas instâncias.

Faltava dourar a pílula comunicacional antes de passar a notícia ao ignaro povão.

O inconveniente vazamento, sem anuência da chefia e os devidos acertos na Câmara Federal, deixou o dito pelo não dito, ou versa e vice.

Falam também que os preciosismos acadêmicos do Sr. Cintra sobre o tema não deixavam margem às negociações com as bancadas de apoios e que ele e o presidente da Casa, Rodrigo Maia, já não dividiam a mesma lotação – ou melhor, e modernizando: o mesmo Uber.

Por outra há versões que nossa Toscoland chafurda em sua própria pequenez. As eleições presidenciais de 2022 atiça a gula e a ambição de alguns ‘notáveis’ como o presidente que almeja ser reeleito, o ministro Moro que tem a simpatia da Globo, o vice Mourão de rompantes militarescos, além de Rodrigo Maia sempre alerta a se aboletar no Poder .

Esqueci alguém?

Há quem inclua nesta lista o próprio ministro Paulo Guedes, o Posto Ipiranga da tropa, aquele que imagina segurar o rojão.

Não é dele a declaração/piti?

Largo tudo e vou embora. Aí vocês vão ver o que é bom!”

Ui.

Chato lembrar, mas oportuno não esquecer:

Em briga de elefantes, quem sofre mesmo é a grama.

 

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