18 – A Caminhada dos Apóstolos
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Senti uma alegria boba assim que cheguei à PRAGA, capital e principal cidade da República Tcheca.
Era tardinha de um sábado de sol morno, típico do abril europeu.
Devia ter cinquenta e poucos anos – já era vivido, portanto –, um tanto viajado, só não entendia ao certo o porquê de tamanho contentamento, e disposição. Se bem me conheço, ranheta que só, deveria reclamar das horas e horas de voo, com escala em Madri e cousa e lousa e maripo(u)sa.
No entanto, estava ali, todo pimpão. Ávido por, assim que me livrar das bagagens, sair para esticar as pernas e alongar os passos nas imediações do hotel.
Dito e feito.
Saímos, lépidos e fagueiros, eu e a Neisa, num passinho acelerado e curioso, ladeira abaixo e, acreditem, logo achamos uma estação do metrô.
Não pensamos duas vezes em nos arriscar até o centro histórico da cidade que, segundo dizem, é onde tudo (ou quase tudo) acontece.
Minutos depois, acompanhamos o grosso dos passageiros que desembarcavam, e lá estávamos, na orelhada, em plena Praça da Cidade Velha que reúne uma arquitetura diversa e tem como ponto de atração a Catedral de Lyn, em estilo gótico, e a de São Nicolau, em esmerado barroco.
Ficamos por ali a nos encantar.
Logo divisamos o famoso Relógio Astronômico e a Torre da Cidade Velha que oferece uma visão panorâmica de toda a cidade.
Óbvio que, em todo o entorno do Centro Histórico, há um sem número de lojas com os tais encantadores artefatos feitos com o cristal da Bohemia. Entramos e saímos de várias (pra não dizer todas), sem saber exatamente o que escolher e, principalmente, quanto poderíamos dispor do nosso orçamento.
A desculpa que nos dávamos era sempre aquela:
– Mas, como acomodar, sem risco de quebra, todos esses copos e jarra durante o que resta da viagem?
– Será que chegam inteiros no Brasil?
Logo anoiteceu – e escolhamos um restaurante típico para o jantar.
Não lembro bem o que escolhi. Lembro bem do espumante que entornei – e me deixou com uma sensação ainda mais blasé e relaxada.
Enfim…
Uma tarde noite inesquecível.
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Não preciso dizer, mas digo que dormi o sono dos justos e o dos muitos cansados.
Para acordar no dia seguinte, foi um sufoco.
Só com muita força de vontade – e alguns bons trancos – acordei a tempo de não perder o tal do City Tour, como havíamos previamente combinado.
Lá fomos nós para um roteiro infindo: Castelo de Praga, Ponte Carlos, passeio de barco no Rio Elba, a casa do escritor Franz Kafka, a Rua do Ouro, a igreja onde está a imagem do Menino Jesus de Praga…
Eu estava um estrupício, me arrastando, firme como um prego na areia.
Mas, lembro bem que a andança terminou na mesma Praça da Cidade Velha, com tempo livre para bisbilhotar as lojinhas e assistir a encenação que acontece, a cada hora cheia, no alto da Torre do Relógio Astronômico (Orloj).
É o seguinte:
Assim que os ponteiros marcaram 13 horas, soou alto uma corneta e a turistada correu se aglomerar diante da Torre. Simultaneamente, abrem-se duas janelinhas para representar a Caminhada dos Apóstolos. De uma das janelas, então, sai um Esqueleto (representa a Morte) tocando um sino e ruma em direção à imagem do Homem Turco (que representa a Cultura e a Arte) que responde a provocação com um aceno. Há um terceiro personagem que é o Avarento a se olhar no espelho…
Dura dois ou três minutos.
Não perguntem o que significa tudo isso, pois não sei.
Não vi.
Tirei um doce cochilo enquanto tomava um expresso num dos cafés da Praça.
O que sei foi a Neisa que me contou, mas não entrou em detalhes.
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O que você acha?