Dizem que foi genial a estratégia de ‘colar’ o telejornal da noite em meio a duas novelas. Assim se deu a fidelização do público para a novela da sete (mais com cara de Sessão Aventura), o Jornal Nacional (prestes a completar 40 anos) e a telelágrimas das oito, que só começa depois das nove.
Pode ser, pode ser. Faz todo o sentido.
Modestamente, porém, proponho que se revejam esses horários, especialmente a partir do capítulo de ontem de Caminhos das Índias. Não estou entre os noveleiros mais inveterados. Mas, fiquei apreensivo depois da cena que abriu a novela, aquela em que a Melissa (Cristhiane Torloni) encheu de sopapos a Ivone (Letícia Sabatella), deixando a vilã em frangalhos. Ainda e mui justamente lhe tomou as jóias que lhe eram de direito e que a segunda havia ganhado, digamos, espuriamente do marido da primeira.
Como?
Não entenderam a minha preocupação?
Eu explico.
É que sou dado a imaginar coisas, vocês sabem, né?
Então, me pus a pensar que se houvesse uma Melissa no Senado e em outras esferas da vida pública nacional essa lengalenga de tráfico de influência e atos secretos já estaria pra lá de resolvida e não teríamos, assim, que agüentar o casal Bonner e Fátima a anunciar a patética encenação diária de senadores e afins.
Outra coisa: a notícia veio tão próxima à ficção que não pude deixar de reparar.
Os atores são mais convincentes que os senadores. Tanto os que fingem indignação e acusam quanto os que se dizem inocentes e vítimas.
Observações à parte e antes que lancem a candidatura da perua personagem para o Senado, apresso-me em dizer que tenho um olhar auspicioso para a democracia que conquistamos às duras penas e que ora vivemos.
Ao contrário do que muitos imaginam, há que se ter paciência para percorrer todos os trâmites da legalidade e da apuração da verdade. Assim é a regra do jogo democrático.
Essas tramóias infelizmente não são novidade na vida pública nacional, infelizmente.
A diferença é que hoje esses escândalos vêm à tona nos noticiários e na mídia em geral.
É fundamental que se informe e forme a opinião pública. Que esta permaneça atenta e, na hora do voto, não esqueça quem é quem.
Mas, reconheço. Às vezes, as lamparinas do nosso juízo ficam por um fio, ah!, lá isso ficam mesmo. Daí, o delírio e a vontade de clamar:
“Dá-lhe Dona Melissa!”
FOTO no Blog: Jô Rabelo