“Oi. Sou eu…”
Demorou alguns segundos para identificar de quem era a voz do outro lado da linha.
Logo veio a certeza.
Desacreditou.
Era ela mesma. A tal.
Desde que a viu, pela primeira vez, tremeu na base.
Desacreditou.
Teve certeza que estava diante da mulher dos seus sonhos.
Linda.
Divertida.
Sensual.
Sonhadora.
Depois dessa noite, encontraram-se outras tantas e quantas vezes.
Sorriu, brincou, propôs.
Abriu todas as possibilidades, o coração e os braços.
Mas, ela o deixou no vazio.
Refutou os convites.
Sempre gentil, alegre e encantadoramente.
Não dizia não. Também estava longe do sim.
Ele não queria crer.
Todas as vezes que se encontravam era assim
Repetiam o rito.
A dança do pavão.
Os olhares.
Ela falava, ouvia.
Provocava.
Ria que ria – e depois se ia.
Dias, semanas, meses, ano e meio – e agora, justamente agora, o telefone, a voz…
Desacreditou.
Mesmo assim, seguiu o papo.
Tropeçou nas palavras,
Sem perceber, tocou no assunto.
— Vamos?
Quando bateu o telefone, deu-se conta de que o esperado encontro estava marcado para logo mais à noite.
Desacreditou.
Pensou em uma estratégia.
Para se livrar da fama de “predador”, que lhe acompanhava com alguma razão, resolveu comprar antecipadamente entrada para um dos tantos shows da cidade.
Chegaria com os ingressos em uma das mãos, e flores na outra.
Foi o que fez.
Ao ver a cena foi a vez dela desacreditar.
Não se fez de rogada, porém.
Sorriu – e pediu que ele entrasse.
— Vamos beber algo?
Como recusar tal proposta da tal?
Impossível.
Na manhã seguinte, olhou para o lado – a tal dormia, estampando um breve sorriso.
Lembrou-se vagamente da noite anterior.
Ela estava linda.
Divertida.
Sensual.
Sonhadora, jogou os ingressos do show para o alto, levantou a taça de pró-seco e propôs com voz maliciosa:
– Eu quero tudo hoje!
Ele desacreditou – e viveu a noite mais linda do mundo.