Não me levem a mal, não.
Mas, vou lhes dizer:
Gosto de lembrar os tempos de Redação – as entrevistas, as reportagens, a correria, o ‘fechamento’, o recomeçar a cada nova edição. No entanto, não tenho saudade daquela falta de rotina rotineira.
É porque indiferente do tamanho e expressão do veículo – pode ser rádio, TV, impresso; on line é pior –, toda Redação tem lá um jeitão de o Dia da Marmota. Ou seja, é um repetir-se sem fim de expedientes, prazos, horários e, acreditem, temáticas. Especialmente quando chegam as tais datas comemorativas como a de hoje, o Dia dos Namorados, sinto um enorme alívio de estar fora de jogo.
Ninguém merece.
Todo santo ano bolar uma pauta diferente – que em essência é sempre igual – para tão retumbante assunto que, diga-se, se faz imprescindível no noticiário.
Então lá vai o desalentado repórter atrás das novidades que nada têm de novo.
Antes, nas reuniões de pauta, precisamos usar toda nossa imensa criatividade.
O casal mais idoso, que tal?
(Não, não, não – alguém grita, esperneia, com toda razão.)
O mais jovem?
(Todos ignoram.)
Um jovem e outro mais passadinho?
(Também não.)
O executivo e a hiponga?
(Horrível.)
Então, o inverso. A hiponga e o exe…
(Nem dá para terminar a frase)
Uma idéia.
Focalizaremos os diferentes tipos de namoro. Como era, como é. A gente fala com terapeutas comportamentais, sociólogos, psicólogos e todos os “ólogos” possíveis e imagináveis.
(Tive um editor que nos proibiu de entrevistá-los. “É sempre o mesmo quásquásquás”, dizia. “Vivem no melhor dos mundos, não precisam provar nada e entendem de tudo – de arte, política, cultura e da transcendência do ludopédio na alma do brasileiro.”)
Pois é…
Depois de mil e uma idéias, acertava-se um caminho e se acrescentava a inevitável sugestão de presentes. Aí era outra rusga, mas com o departamento comercial…
— Vamos privilegiar nossos anunciantes, por favor.
Imaginem o bate-boca entre editor e diretor comercial!
Ah, quase esqueci o principal: a cobertura do movimento nos shoppings e na rua 25 de Março, com as incipientes entrevistas com os consumidores de diferentes classes sociais.
Alguém já leu, ouviu ou viu qualquer coisa assim?
Mas, enfim, não há mal que sempre dure ou bem que nunca acabe.
Edição na rua. O Dia dos Namorados já era… Aís, vinham as férias de julho, o Dia dos Pais, o Dia das Crianças (que gracinha a reportagem com os “anjinhos”), o Dia de Finados, as compras de fim de ano, o Natal, o fim de ano, o verão, o carnaval (para todo sambista, a escola dele é campeã), a apuração de carnaval, a Páscoa, o Dia das Mães, o Dia dos Namorados…
Isto quando não é ano de eleição, copa do mundo, pan-americano, olimpíadas…
• Nota do Autor:
Se algum leitor quiser entender melhor esse cotidiano, uma boa sugestão é assistir a um filme antigo, chamado Feitiço do Tempo. Foi daí que extraí o termo Dia da Marmota.