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É a barbárie…

Parece que não há saída para este mundão que, um dia, foi de meu Deus.

Centenas de inocentes mortos em atentados em apenas uma semana – atentados em Bangladesh, Istambul e Bagdá – é prova cabal de que se perdeu o senso e o rumo.

Estamos à deriva e não há explicação ou causa que explique e/ou justifique.

Vale para o global.

Vale para o nosso quintal.

O Brasil vive um momento patético. Desolador.

Que o diga o noticiário nosso de cada dia.

II.

O Velho Marques, nos tempos da redação de piso assoalhado, esteio de nossos sonhos e esperança, chamava de debaclê social.

– Estamos perdendo valores humanísticos que são essenciais para a vida em sociedade. É barbárie que se instala sorrateiramente e mal nos damos conta de que somos parte desse horror, dizia ele em tom de desesperança.

Marcão era um jornalista das antigas. Mestre e guru na arte e no ofício do bom jornalismo. Texto fluente, cabeça pensante, e olhar atento ao derredor, instigava a nós, jovens repórteres, a fazer matérias que tivessem como finalidade precípua o bem comum.

– Se não for assim, não é jornalismo. É armazém de secos e molhados, como diz o Millor.

III.

Ele próprio, porém, não escrevia mais.

Na redação, a tarefa é bem diversificada. Fazia o coppy dos nossos textos, orientava as pautas da semana, sugeria reportagens juntando fatos e fontes que sequer imaginávamos dar qualquer liga.

Vez ou outra, voltava à máquina de escrever – e produzia uma crônica brilhante e bem-humorada, reunindo as notícias do dia e as prováveis consequências.

Era raro errar um desses prognósticos.

Ficávamos maravilhados – e perguntávamos se poderíamos publicar.

IV.

Durante anos, o Marcão assinou uma coluna semanal – e todos nós queríamos vê-lo novamente em ação.

“Vai voltar a escrever, então?”

A pergunta ficava no vazio.

Ele balançava negativamente a cabeça, rasgava as duas laudas de texto que produzira e só depois nos perguntava:

– Vocês querem que os homens (os militares) fechem o jornal?

V.

Outra vez o silêncio.

Outra vez era voz do Marcão que nos dava régua e compasso para rabiscar a realidade que vivíamos e precisávamos entender.

– Não é só a censura dos milicos, não. É que, nesta altura da vida (ele devia andar por volta dos 60 e poucos), perdi a fé na humanidade. Acho que não tem jeito, não. O homem solidário é uma experiência que não vingou. Infelizmente é assim.

VI.

Tenho hoje a idade que o Marcão tinha lá naqueles idos de 70.

Digo a vocês que a previsão sobre “o homem solidário” foi outra bola dentro do grande Tonico Marques (assim que ele assinava as reportagens nos áureos tempos).

No entanto, sinto-me também obrigado a lhes dizer o que ele, como notável guru e mestre, nos dizia naquela época:

– Olha aí, rapaziada, seguinte: eu posso andar descrente e algo pessimista. Não tenho mais idade para ilusões. Vocês, os jovens, não. Se há alguma chance de mudança, ela está nas mãos e no coração de vocês. Por isso, se fizeram jornalistas…

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