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E o direito de resposta?

Um senhorzinho de fala mansa e jeito humilde é o entrevistado do repórter sobre a atuação da sociedade de amigos do bairro onde mora.

As perguntas buscam uma aproximação.

— O senhor conhece a SAB?

— Conheço.

— E o que do trabalho social que realiza?

— Assim assim.

— O senhor freqüenta as reuniões?

— Não.

— Por quê?

— O pessoal se reúne para um falar mal da vida do outro. O primeiro que sai da sala é pau nele.

Jornal na rua. No dia seguinte à edição, aparecem na Redação o presidente da SAB (cabo eleitoral de um vereador), um advogado, duas testemunhas para enquadrarem o repórter e exigir reparação aos danos causados pela entrevista com o velhinho da língua solta.

Eles garantiam que o repórter estava a serviço do outro vereador e inventou a conversa com um dos mais antigos moradores do lugar. Cobravam mundos e fundos do jornal e do repórter que jurava não estar acreditando na roubada que o senhor lhe causou.

Foi um um abacaxi.

Lembrei-me da história assim que soube da extinção da Lei de Imprensa pelo Supremo Tribunal Federal. Acho que foi semana passada, se não me engano.

Confesso não tenho opinião fechada sobre a falecida.

Não a defendo. Mas, não a condeno integralmente.

A ditadura fez o que fez com a imprensa porque uma boa parcela dos Senhores da Mídia foi conivente com o arbítrio. Também porque vivíamos uma época de exceção em que valia a lei do mais forte. Do tipo: Quem não está comigo está contra mim.

O que me incomoda mesmo – e acho um risco – é a falta de uma regulamentação prévia sobre o direito de resposta. O temor, meus caros, vale para ambos lados. Para quem escreve e publica e para o cidadão que eventualmente possa se sentir lesado por uma publicação.

Mais uma vez, estaremos refém do quem pode mais chora menos.
Lembram de certa biografia de um certo cantor mais do que famoso escrita por um historiador e fã não tão famoso assim depois de anos e anos de pesquisa?

Pois é…

* Só para concluir a história lá de cima:

O repórter havia gravado em fita a fala do senhorzinho – e, para constrangimento dos ilustres líderes comunitários, esclareceu-se o mal entendido. Aliás, o editor até sugeriu como poderia ser o direito de resposta aos ofendidos: “Diferentemente do o Sr. Fulano de Tal disse ontem neste jornal, o pessoal da SAB não fala mal da vida alheia quando se reúne todas as semanas”. Mas, o pessoal preferiu por uma pedra em cima do assunto…

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