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Efêmero

Sucede que o tempo foge.

De repente, não existimos, e começará então, na morte, no sono ou na desaparição, a aventura de não ser mais.

(…)

Sucede que aceito a morte, sem querer morrer.

Impressiona-me que quase a totalidade dos homens viva a discutir problemas sem importância, que a morte destrói com uma serenidade que só as coisas eternas possuem.

Ouço falar sempre em deveres e tarefas dos homens, e não posso deixar de esboçar um sorriso.

Que sabemos nós de deveres e tarefas?

(…)

Desde que existo, que meu pensamento se resume em eu ter conhecimento de minha efêmera existência.

(…)

Esta claridade sobre os telhados longínquos, este mar sem humildade, a relva seca no caminho, os montes, a cor transparente do céu – tudo isto diz que estou vivendo…

(…)

Sucede que o tempo foge…

*Lêdo Ivo, no livro “As Alianças.

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