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Eleição não é ciência, o relatório

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Foto: Jânio Quadros, então prefeito, visita a Câmara Municipal/ Arquivo CMSP

Da série Memórias dos meus 50 anos de jornalismo…

Confiram o que escrevi em 29 de outubro de 2012.

Essa vai pra coletânea…

SOBRE ELEIÇÕES E CANDIDATOS

Depois da emblemática eleição municipal de 1985 – Jânio deu uma surra em Fernando Henrique Cardoso – fui convidado para fazer o texto final de um documento em que o diretório do MDB do Ipiranga fazia uma prestação de conta da campanha que começou auspiciosa e, por fim, terminou em enorme frustração.

Tinha amigos lá – o Nasci, o Made, o Almir, o Manuelino — que estavam inconformados com a derrota e queriam, além de apresentar os números e dados, fazer ponderações sobre erros e vacilos que jogaram a Prefeitura da mais importante cidade da América do Sul no colo das chamadas forças reacionárias.

As informações seriam repassadas à cúpula do partido. A fim de que os mesmos tropeços não fossem cometidos futuramente.

Acabávamos de sair de um longo período ditatorial.

Era inadmissível o que aconteceu em São Paulo.

II.

Participei de duas ou três reuniões.

Ouvi discursos inflamados, consultei mapas do Tribunal Regional Eleitoral, falei com alguns próceres do partido e, ao lado dos meus pares ipiranguistas, fechamos um longo relatório e, a meu cargo, ficou o alinhavo do texto final, apontando caminhos futuros.

Olhem a pretensão!

III.

Lá fui eu enfileirar uma letrinha atrás, da outra, atrás outra, atrás da outra que é, desde sempre, minha sina e meu ofício.

Na medida em que batucava a indomável Olivetti, notava o quanto eram vagas as argumentações e análises feitas por todos e corroboradas por mim e meus chegados.

Sim, faziam sentido pelos dados recolhidos, pelos números apresentados, pelo que aconselha a lógica e o bom-senso.

Só que eleição não é ciência.

Não tem o rigor de uma questão aritmética.

“Tudo certo como dois e dois são cinco.”

Além do que, é mero jogo de adivinhação tentar prospectar os rumos do que virá.

IV.

Entreguei o documento aos amigos sem grande convicção.

Não sei que fim deram a ele. Para onde levaram? Quem o leu? Quem o ignorou, com justa razão?

Talvez haja até uma cópia esmaecida entre meus guardados e escondidos.

Enfim…

Desde então vejo as análises de cientistas políticos, parlamentares e mesmo jornalistas, com muitas ressalvas e boa dose de humor.

Eles se propõem a ser os senhores do tempo e dos destinos. Totens das verdades e dos bons ventos democráticos.

V.

Lembra-me um hábito comum na Itália de se qualificar como histórica qualquer pedra que se encontre pelo caminho. Em Verona, por exemplo, você visita a casa onde viveu Julieta. Em Gênova, o turista conhece onde morou Cristóvão Colombo.

Em Turim, você fica diante do Santo Sudário e assim se anda por toda a Bota.

Marcos históricos e culturais. Na caradura, eles lhe dizem: podem ser, mas podem não ser – e é mais provável que não sejam mesmo.

VI.

Acontece fenômeno idêntico com o pós-eleições, creio.

Análises e prognósticos são secundários.

Podem vir a ser.

Ou não?

Até o próximo embate eleitoral, muita água há de passar por debaixo deste carcomido pontilhão de nome Brasil.

É insofismável a verdade das urnas.

E, principalmente, o saudável exercício do jogo democrático.

    

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