Que Erasmo seria artista, ele próprio não tinha mais dúvidas.
O pessoal do Clube do Rock gostava dele – e de suas versões.
O amigo Tim Maia até já lhe ensinara os três acordes básicos para arranhar um roquizinho básico ao violão.
Enfim, era a vida que pediu a Deus.
Só uma dúvida lhe atormentava.
Agora que o chefão do programa, Carlos Imperial, lhe garantira a oportunidade, não sabia que nome adotaria.
Erasmo Esteves, nem pensar.
Lá esse era nome de roqueiro com fama de mau.
O amigo de fé, irmão, camarada Roberto Carlos já despontava com algum sucesso.
Era o mais popular da turma.
Alguém comentou que Carlos era nome de rei; tinha lá seus poderes.
Erasmo fez a associação dos nomes – e gostou.
Erasmo Carlos.
Na turma já havia dois Carlos. O Imperial e o Roberto.
Um a mais, um a menos, pensou o futuro Tremendão, não muda nada.
Mas, pode soar legal.
II.
Correu contar a novidade para o todo poderoso Imperial. Que, a bem da verdade, não estava nem aí para o nome que seu secretário grandalhão passaria a usar agora que se disporia a iniciar a carreira de cantor, mesmo com um fio de voz.
Pode ser.
Foi mais ou menos assim que Imperial recebeu a notícia.
Quem estranhou a notícia foi o próprio Roberto.
Cismou que poderia haver confusão.
Em resumo, não gostou.
Tentou até dissuadir Erasmo que ficou de pensar no assunto.
Mas, no fundo, já havia tomado a decisão.
Seria Erasmo Carlos – e ponto.
Assim começaria sua nova e definitiva vida…
Enfim, seria um artista, como sempre sonhou.
III.
Tinha certeza que batalharia muito pelo sucesso – e, confiava desconfiando, até levava jeito para coisa.
É bem provável que, por esses dias, antes de gravar “Terror dos Namorados” pela RGE, tenha lembrado do amigo de infância, o Tião da Marmita – apelido de Tim Maia – que andava distante, lá nos States, aprontando sabe-se lá o quê…
A única notícia que tinha do amigo veio em um cartão postal, alguns meses atrás.
Não dizia lá grande coisa.
Aquela coisa de sempre. Dizia que estava tudo bem, e desejava que todos estivessem bem por aqui.
Tim não era de muitas palavras.
Amava a música. E certamente a música popular seria o mote de vida de ambos.
Por isso, Tim no cartão o chamou de Erasmo Gilberto.
E, ainda apaixonado pela bossa-nova, assinou:
Tim Jobim.
PS. Encerro hoje a série de posts/homenagem a Erasmo Carlos, recomendando a belíssima entrevista que o Tremendão deu, neste mês, à Revista Trip.