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Herzog, Abramo e Marcão

Aos formandos em Jornalismo que, ontem, participaram da cerimônia de colação de grau no salão nobre da Universidade Metodista de São Paulo:

I.

Boa noite a todos…

É sempre uma honra estar presente a essas cerimônias [momento único na vida desses novos jornalistas, de amigos e familiares e de cada um de nós aqui da Metodista].

Meus caros,

Certa ocasião, o jornalista José Hamilton Ribeiro, também chamado de o repórter do século, veio à Universidade como patrono de uma de nossas turmas de jornalismo. Na ocasião, ele destacou, em sua fala, uma definição de jornalismo que nasceu na França.

Para os franceses, “o jornalismo é a melhor profissão que existe para se sair dela”.

Como ando com sérias dúvidas sobre os rumos que as coisas estão tomando, no mundo e no jornalismo, resolvi usar o mote do mestre em busca de algumas definições mais caseiras do que somos e para onde vamos, nós os jornalistas.

II.

A primeira vez que li sobre jornalismo foi na era pre Google, garoto ainda.

Em uma dessas barsas da vida, surpreendeu-me o título de uma das reportagens:

“Jornalismo é a expressão do pensamento social”.

Demorei algumas décadas para entender a frase – e ainda hoje tenho lá sérias dúvidas se a entendi plena ou parcialmente.

III.

Nas aulas de pós-graduação, conheci duas variantes:

“O jornalista é o mediador das demandas sociais”.

“O jornalista é o historiador do cotidiano”.

Bonito, mas eu diria assim assim. Depois do advento das redes sociais, tudo é tudo e nada é nada, como diria o filósofo contemporâneo, o saudoso Tim Maia.

IV.

Estudante de jornalismo como vocês, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ouvi outras tantas versões. Cada professor tinha uma.

A que mais me marcou – e não à toa – foi a do professor de telejornalismo, jornalista Vladimir Herzog, semanas antes de ser assassinado nos porões da ditadura.

Alguns alunos reclamaram de um trabalho que ele passou para um final de semana que anunciava ensolarado.

Ele rebateu:

“O jornalismo é ir até o fundo do poço atrás da verdade. Senão, mude de profissão”.

Alguns mudaram – tenho um amigo que é dentista. Alguns foram para o Banco Central. Outros tantos insistiram – eu inclusive.

V.

Meu primeiro editor, o jornalista Antonio de Oliveira Marques dizia:

“Jornalismo é o exercício de humildade. Temos de ouvir as pessoas. Dar voz e vez aos que precisam ser ouvidos…”

VI.

Nas redações por onde andei, especialmente no período da redemocratização, cultivávamos a frase de Cláudio Abramo, então editor da Folha.

“Jornalismo é indignar-se sempre”.

VII.

Não faltam definições para jornalismo.

Não ouso lhes dar uma aqui.

Não sei definir a profissão hoje em seus múltiplos fazeres e entendimentos.

O futuro a Deus e a vocês pertence.

VIII.

Por favor, não me imaginem cético. Não posso ser cético com a profissão que me fez e faz feliz.
Fiz amigos, conheci pessoas interessantes. É a profissão do meu filho, a profissão de vocês…

Que deixarão imensa saudade por aqui.

Vocês são parte da história da Metodista, e construirão a própria história.

IX.

Sejam felizes, meus caros, nessa tarefa.

Mas, não esqueçam:

– o respeito à verdade factual que Herzog ensinou…

– a indignação profetizada por Cláudio Abramo…

e a humildade do Marcão, meu saudoso amigo…

Com seu trabalho, construam e escrevam a História de um novo tempo mais harmonioso, mais solidário, mais feliz…

(Para terminar, lembro a vocês que o Zé Hamilton tem aí por volta de 80 anos e continua na ativa…)

*** Post de número 2993

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