Era uma história que circulava ali nas mesas do Talismã, um boteco que ficava ali imediações da Major Sertório – não vou lembrar o nome, nem me darei ao trabalho de procurar no Google.
Era o preferido do compositor Adoniran Barbosa.
Aliás foi lá que eu o entrevistei numa tarde quente e ele me esculhambou logo na primeira pergunta. Quis saber o motivo de haver trocado o nome de batismo, João Rubinato, para Adoniran Barbosa.
Depois de soltar um sonoro palavrão, arrematou a voz rouca e o que lhe restou de ironia:
— Meu caro repórter, você compraria um disco de um sambista chamado João Rubinato?
Sou um cara simples do Cambuci, sei quando piso na bola. Não me desculpei, mas tratei de mudar de assunto. E a entrevista rolou legal, sem qualquer outro senão.
A bem da verdade, Adoniran estava pra lá de bronqueado, com o vacilo da gravadora (a pequena Continental, com sede na avenida do Estado) que não vinha aproveitando a onda de sucesso que sua carreira engatou logo após o sucesso de “Trem das Onze” na voz de Gal Costa.
Antes que eu chegasse, acompanhado do assessor de imprensa, o Gomide, o homem havia percorrido todas as lojas de discos da região – e não havia encontrado sequer um compacto com o seu nome.
Em off, o que nos disseram ali no Talismã é que ele ficava mais cabreiro ainda pelo fato de não estar faturando nada, nadinha, se comparado ao que entrava de cascalho na conta do grupo Demônios da Garoa, também resgatado pelo mesmo samba.
Os caras faziam show dia sim e outro também. Voltaram a gravar, a tocar no rádio, a aparecer na TV.
Enquanto isso, no entender dele – o autor de toda obra – sobrava uma merreca de direitos autorais – e olhe lá…
A solução que Adoniran – um frequentador do bar – foi reunir ali um grupo de músicos, formar um conjunto aos moldes dos Demônios da Garoa – e também ele por o pé na estrada, com o áspero fio de voz que Deus lhe deu.
Na hora de batizar o grupo, adivinhem o nome escolhido?
Acertaram, meus amáveis e fiéis cinco ou seis leitores: Talismã.
Mas, não era essa a história que imaginei lhes contar.
Não faz mal. Não tem importância. Fica para amanhã.