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João Bosco e Aldir Blanc: parceria de talento

Considerados, com absoluta justiça, como responsáveis pela obra mais admirável do pós-tropicalismo, o mineiro de Ponte Nova, formado em engenharia, João Bosco de Freitas Mucci, e o carioca do Estácio, psiquiatra diplomado, Aldir Blanc Mendes formaram, ao longo dos obscuros anos 70, uma dupla de autores tão harmoniosa quanto merecidamente bem-sucedida.

Na verdade, o providencial encontro desses notáveis talentos sugere uma dessas remotas venturas que, de tempos em tempos, vêm à tona com o objetivo supremo de induzir a uma reavaliação de tudo o que estiver previamente estabelecido e, por vezes até, fundamentado em sólidos conceitos, ideias e valores.

Para tanto, possuem, como armas eficazes e demolidoras, uma contundente irreverência (presente nos versos de Aldir e na ágil interpretação de João), uma saudável aversão ao lugar-comum, boa dose de ousadia, além do discernimento adequado para transformar, via de regra, em canções de raro bom gosto suas observações do cotidiano – por mais impiedosas que sejam.

A temática é a de sempre: um bem engendrado mostruário da vida do brasileiro com crendices, paixões, ironias, aspirações e tragédias.

A fórmula, de aparência simples, ganha contornos personalíssimos pela versatilidade musical (e criadora) de João Bosco e pela indiscutível habilidade de Aldir, um letrista definido pelo jornalista Mino Carta capaz de tornar épica a farofa e lírica a ponto de um torturante bandaid.

O resultado dessa fértil união não poderia ser melhor: dezenas de canções incorporadas, sem remorsos, ao repertório de intérpretes como Elis Regina, Nélson Gonçalves, Simone, Marlene, Ângela Maria e do próprio João.

Efetivamente, são nos discos de João que se obtém um nítido retrospecto da obra de ambos no decorrer desses anos. Confiram, pois: “Agnus Sei” (em Agnus Sei – 73); “Mestre Sala dos Mares”, “De Frente Pro Crime”, “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, “Escadas da Penha”, “Casa de Marimbondo”, “Kid Cavaquinho”, “Caça a Raposa” e “Bodas de Prata” (em Caça a Raposa – 75); “Incompatibilidade de Gênios”, “O Cavaleiro e o Moinho”, “Vida Noturna” “O Ronco da Cuíca”, “Miss Suéter”, “Latin Lover”, “Galos de Briga”, “Transversal do Tempo” e “Rancho da Goiabada” (em Galos de Briga – 76); “Falso Brilhante”, “Jogador”, “Vaso Ruim Não Quebra”, “Tiro de Misericórdia”, “Plataforma”, “Me Dá a Penúltima” e “Bijouterias” (em Tiro de Misericórdia – 77); “Linha de Passe”, “Contos de Fadas”, “Boca de Sapo”, “Ai, Aydée” e “O Bêbado e a Equilibrista” (em Linha de Passe – em 79).

No mais, é torcer para que continuem juntos (e a todo vapor) por décadas e décadas. Amém!

* Jornal Expressão Musical