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Jornalismo e resistência – 2

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Retomo o assunto. Sobre jornalismo e jornalistas.

Chegaram ao Blog alguns questionamentos que espero reuni-los numa única resposta e aqui colocá-los em discussão.

Primordial é reiterar a afirmação que ontem, em pleno domingão friorento, me fez discorrer sobre a profissão tida e havida como a mediadora do pensamento social.

Insisto:

No momento em que vivemos, jornalismo é resistência.

O que vier fora deste espectro é “armazém de secos e molhados” (Millôr).

Podemos também chamá-lo de entretenimento, servição, assessoria, talk-show, show sem talk, programa de humor e o escambau.

Qualquer coisa, menos j_o_r_n_a_l_i_m_o.

E mais:

Não se trata de uma questão de preservar a tenra democracia que, palidamente, desfrutamos desde 1985, consolidada pela Constituição (1988) e as tíbias conquistas de governos que, minimamente, se dispuseram a ocupar o campo progressista.

Não é só isso…

Não é só a luta pelos direitos cidadãos.

A liberdade de expressão e pensamento.

Não é só pela igualdade e respeito entre todos e entre todas as classes sociais, independente de cor, credo, orientação sexual etc etc etc.

Trata-se, sim, de uma questão de civilidade.

Há uma onda de violência e retrocesso que grassa solta mundo afora.

(Vejam o que ontem mais uma vez aconteceu nos Estados Unidos.)

Por tantas  e tamanhas, digo: se há um profissional que tem o dever de denunciar esses absurdos, eis que este profissional é o jornalista.

Infelizmente o Brasil também navega nas águas indecorosas do obscurantismo.

Virou modinha entre muitos ser tosco, dizer barbaridades, cultuar torturadores e adaptar a lei aos propósitos e anseios pessoais.

Alguém me pede explicações:

– Antes era diferente?

Boa pergunta.

Lembra-me de que os donos dos veículos de comunicação, desde os primórdios, mandaram e desmandaram na linha editorial dos jornais, revistas e demais noticiosos.

– O que me diz?

Concordei de imediato.

E digo que nunca estivemos isentos dessa indesejada pressão.

Como bem retratou Chico Buarque numa emblemática canção nos anos 80, pesa mais “a voz do dono” do que os pleitos “do dono da voz”.

Valia para as gravadoras, todas poderosas de então. Valeu para nós, jornalistas, em muitos momentos.

Só que havia uma grande indignação em atendê-los, uma revolta que, muitas vezes – como no assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI\CODI-, se sobrepôs à vontade do patronato e a seus interesses mais escusos.

Hoje não vejo esta rebeldia nas redações.

Os ‘pimpões’ chamam o patrão de ‘colega’ – e temem o linchamento das redes sociais.

Dá pra entender a subserviência?

Como disse ontem – e hoje quero ressaltar – há um núcleo de resistência.

Felizmente temos gente boa, corajosa, na luta independente pela preservação do jornalismo como instrumento fundamental para os avanços sociais, como registro documental do nosso cotidiano, como farol a iluminar o trajeto de uma sociedade, sem rumo e sem prumo, prestes a se afogar de vez num turbulento oceano de informação e contra-informação.

O mundo e o país sacudidos pelo maremoto das fakes-news, das opiniões sem lastro, das piadinhas fascistóides.

Precisamos dos jornalistas que zelem pelo esclarecimento da opinião pública. Para assim alçarmos velas aos novos tempos.

Que estes , sim, sejam os exemplos para as novas gerações.

Que os bons ventos os protejam…

 

 

 

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