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Lucas e Orelha

Logo no início dos anos 60, a música brasileira vivia um período de grandes transformações. O aparecimento da bossa nova e a eclosão do rock causaram, além da estranheza com o novo, a consolidação de uma nova estética em, termos de cancioneiro popular

O ritmo sincopado, os acordes dissonantes, as delicadas harmonias, as letras fugazes que iconizavam banquinhos e violões, corcovados e barquinhos deram a tônica do que se deveria ouvir – tudo o mais era passado.

De outro lado,os jovens suburbanos – como eu e os meus – se interessavam pelas letras nada a ver e o embalo acelerado, made in USA, desse tal de rock’in roll. Também aqui – e de forma visceral – tudo o mais era passado.

Quem tinha mais de 30 não tinha a noção exata da cena musical. E reclamava que não se fazia mais música como antigamente. As letras eram um pastiche e, para se cantor, não precisava
sequer ter voz potente ou mesmo saber cantar.

II.

Foi neste contexto que apareceu o carioca Jorge Ben, cantor, compositor e instrumentista, na faixa dos 20 anos, fazendo um tipo de música que ainda ninguém tinha ouvido. Misturava samba, bossa, rock em uma levada que não se sabia identificar o que era exatamente. Suas letras eram pueris, e todo o cenário das canções banhava-se em influências de cultura africana.

Foi um perereco.

O samba não era samba.

A bossa não era bossa.

O que estávamos ouvindo então?

Indiferente aos questionamentos, o grande público adorou a novidade. Três de suas canções emplacavam os primeiros lugares entre as mais vendidas – “Mas Que Nada”, “Por Causa de Você, Menina” e “Chove Chuva” – e o primeiro elepê, “Samba Esquema Novo”, ainda hoje (51 anos depois) ainda é referência em termos de discografia nacional.

O resto da história, todos sabem…

III.

Lembro esses primórdios para, digamos, dar os devidos e merecidos créditos à vitória da banda Lucas e Orelha no reality musical Superstar que ontem se encerrou.

Os vocalistas da banda (um com 17 e outro com 19), indiscutível negar, foram figuras centrais da conquistas. Mais do que suas canções – também com letras ingênuas e românticas – que flertam com o funk melody, foi o carisma dos meninos que desbancou os favoritos, os roqueiros da Scalene, nas duas últimas votações.

Não discuto a justiça do resultado. Nem reúno condições para tanto – tenho bem mais do que 30; ou melhor, duas vezes 30 e uns quequerecos.

Penso mesmo que todos os participantes ganharam com as apresentações na tela da Globo.

Mas, torci pelos garotos. Gostemos ou não, eles apontam para o futuro – e, como diria Benjor, são coisas nossas.

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