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Malandro que é malandro…

Sem me dar conta, me pus a cantarolar “Matriz e Filial”, o belo samba-canção que a voz de Jamelão consagrou em idos tempos.

Desconfio que já aconteceu com vocês.

De repente, nos surpreendemos assoviando ou cantando uma antiga canção.

O amigo Nasci descrevia esse ato como “uma das provas incontestes da existência da alma”.

E, saibam, mesmo devoto de São Judas Tadeu, o saudoso amigo se dizia “ateu de carteirinha”

Pois, então, como eu dizia, estava a cantarolar…

E alguém chamou minha atenção para “a música do grande Jamelão”.

Com efeito, é tão pungente a interpretação de Jamelão que muitos imaginam que é ele o autor da própria.

Enganam-se. Mas, não inteiramente…

Explico.

Seu autor é o compositor santista, Lúcio Cardim, muito conhecido na noite paulistana e que faleceu em 1982, aos 50 anos.

Entrevistei Lúcio quando lançou o elepê Obra Prima, pela pequena Chantecler.

Não resisti – e lhe fiz a pergunta:

— Você fica triste quando dizem que o Jamelão é o autor da música?

Lúcio devia estar de bom humor, e me respondeu:

— Eles têm um pouco de razão, sabia?

Não, nunca soube.

Então, ele me explicou que, na letra original, os versos diziam:

“Quem sou eu
Pra sufocar a solidão
Da sua boca
Que hoje diz
Que sou matriz
E quase louca
Quando brigamos,
Diz que sou a filial”

Quando ouviu Jamelão adorou a canção. Mas, machista que só, deu sua contribuição e modificou a letra mais ao seu feitio:

“Quem sou eu
Pra sufocar a solidão
Da sua boca
Que hoje diz
Que é matriz
E quase louca
Quando brigamos,
Diz que é a filial”

Afinal, malandro que é malandro não vacila.

O que que há?

Bolada na costa da mulher amada, nem em letra de música…

** FOTO NO BLOG: Lucas Lima

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