Citei o saudoso Tonico Marques na crônica de ontem, e me é inevitável, hoje, lembrar um tanto mais do querido amigo e mestre no ofício do jornalismo.
É fato que já dediquei algumas modestas linhas em posts anteriores – e mesmo no meu livro “Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões” o texto de abertura – ‘Marcão e Zé Jofre’ – é uma singela reverência a ele e outro grande praça, o Zé Jofre.
Mesmo assim, gostaria de recordar hoje aqui uma de suas histórias mais divertidas.
Nos tempos em que era repórter de um jornal diário, Marcão foi incumbido de cobrir os expedientes da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. O que, por si só, convenhamos não é lá algo inspirador para qualquer escriba que se preze. Só que Marcão tinha não só o dom da escrita, como faro jornalístico e altíssima dose de humor em suas observações.
Esses componentes juntos e misturados foram responsáveis pelas tantas e tamanhas reclamações que a chefia da Redação recebia contra o solerte repórter. Os deputados e seus asseclas não suportavam ver seus discursos e projetos serem implacavelmente desconstruídos pelas ‘tiradas’ do Marcão.
Um desses queixosos foi a então combativa parlamentar, Maria Conceição da Costa Neves, que ficou fula de raiva por uma fina observação que o jornalista fez após a deputada discursar sobre o 22 de abril.
Disse a deputada, em tom de notável oradora:
“Quando os portugueses aqui chegaram, foram recebidos pelos indígenas que isto, aquilo e aquil’outro e blábláblá sem fim.”
No dia seguinte, o jornal publicou o texto do Marcão que foi, mais ou menos, nesta linha:
“Na falta de coisa mais útil para discutir e aprovar, o plenário da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo resolveu ontem reverenciar o Descobrimento do Brasil. A oradora do dia, muito apropriadamente escolhida, foi a deputada Maria da Conceição da Costa Neto que, conforme relato pessoal, presenciou o desembarque dos portugueses ao Brasil.”
Os meninos do CQC teriam muito que aprender com o Marcão…
