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Mestre Nasci completaria 90 anos

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Foto: Nasci e eu, em meio à lida da velha redação, fotografados pelo Cláudio Micheli/1986

O figura da foto é o Nasci, a bordo do indefectível cachimbo.

José do Nascimento, mestre e guru da turma da velha redação de piso assoalhado e grandes janelas para a rua Bom Pastor.

Ensinamentos que nós, jovens e inconsequentes, recolhíamos no estilo:

“Façam o que eu digo. Não façam o que eu faço”.

Grande Nasci que nos deixou há 30 anos.

O tempo não para, amigos, como cantou o poeta.

Hoje, o mestre Nasci completaria 90 anos.

Verdade verdadeira. Com reconhecimento e fé oficiais.

Quem me passou a informação – que se perdera na minha esmaecida memória – foi outro grande amigo nosso: o sempre_vereador Almir Guimarães.

Foi semanas atrás. Júnior, filho do Nasci, precisou legitimar alguma documentação e acionou o Almir para conseguir a papelada original na Câmara Municipal de São Paulo, onde ambos trabalharam por quase 20 anos.

Guardei a data para hoje reverenciá-lo.

Mais do que merecida homenagem, embora singela.

Meus amáveis cinco ou seis leitores, desconfio, já o conhecem de outras tantas crônicas.

O homem sempre aparece em meus tatibitates memoriais.

Meu segundo livro (Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e devaneios), lançado em 2010, nasceu da sugestão e apoio do Júnior.

Propôs o moço que eu resenhasse a biografia do pai.

Tarefa bem além das minhas literatices, que me fez ponderar – não sei se a gosto do biografado.

Nasci a tudo transformava em histórias que também poderiam ser estórias.

Nunca se sabia ao certo.

Mentir, mentir, ele não mentia. Mas, bem ao seu estilo, dava uma bela romanceada.

“Quem nunca?”, dizia.

Minha sugestão então foi alinhavar uma coletânea de crônicas sobre o Nasci e a turma de malacabados e barulhentos que habitava o boteco da rua Bom Pastor na esquina com a Greenfeld, onde está toda imponente a Estação Sacomã do Metrô.

Permitam-me um autoelogio: ficou bacana.

Saiu o retrato de uma época. Quer dizer, o nosso retrato naquela luminosa época da redemocratização do Brasil.

Tempos depois, quando perambulava pela Universidade, com ares professorais, achei oportuno escrever para uma revista acadêmica os feitos e os criativos bem-feitos do Nasci como marqueteiro nas diversas eleições que o nosso guru participou.

Nasci era ator, radioator (codinome José Augusto), produtor de TV, relações públicas, jornalista (assinava Zé Armando), mas essencialmente publicitário, onde para todos os efeitos era o conhecido J. Nascimento.

Por força das circunstâncias “e das necessidades”, mudava o nome e a função.

Nessas idas e vindas, deu de coordenar campanhas eleitorais.

Eu o conheci no tempo em que era RP do Clube Atlético Ypiranga, 1974.

Na falta de algo mais original, dei o nome ao artigo de:

“O Marqueteiro”

Clique AQUI para ler.

Sei que o Site/Blog está repleto de histórias do homem (basta clicar na lente de ‘‘buscas’’ e escrever ‘Nasci’ para aparecer textos e mais textos sobre o saudoso amigo).

Por ofício e gosto, fiz o livro, escrevi o longo artigo, mas não resisto e faço questão de lembrar, nesta data, uma das tantas historietas do nosso inesquecível Havengar (assim o chamávamos por causa da novela e do cabelo em desalinho):

NANDO E LIVINHA

Um dos nossos, Nando, andava cabreiro que só.

Livinha, sua musa e deusa, achara de lhe pedir um tempo.

— Mas eu te amo, Litentou sondar o terreno.

Ela sorriu lisonjeada, mas não lhe deu o troco na mesma moeda.

Ficou na dela.

O que deixou Nando mais desconfiado ainda.

— Tem marmanjo na parada, vociferou em tom de ameaça.

Outro sorriso de Livinha e, de quebra, uma resposta evasiva.

— Sem essa agora, Nandinho, por favor.

Com a inquietante dúvida ardendo na alma e no coração, Nando saiu por aí a consultar as amigas de Livinha, a mulher dos seus sonhos e da sua vida.

Ufa! Que alívio!

Todas, todas, mas todas mesmo confirmaram, entre risos e “deixa pra lá”, que a moça estava só num momento mais, assim, reflexivo da vida, reservar-se-ia a um período sabático de amores.

E seria legal que ele lhe desse o tempo que pediu.

Mais tranquilo, Nando reapareceu naquele boteco que se perdeu no tempo.

Todos saudaram a volta do amigo. Com novas rodadas de cerveja e cachaça – uma para rebater a outra. E a outra, e a outra…

Todos felizes, não tardou a pergunta marota sobre as suspeitas que ele tinha de arabescos a lhe enfeitarem a testa.

– E aí?

A ingênua resposta:

— Beleza, meus caros. Beleza. Perguntei para as amigas da Livinha sobre essa onda dela de ficar só e todas, todas, ouviram bem, me disseram que não há ninguém na parada. Ela só está querendo mesmo um tempo para…

Óbvio que o Nasci não deixou sequer o rapaz terminar a fala.

Foi na jugular.

— Nandinho, querido, não esperneia. Mas, vai por mim, ela tem outro.

O sangue lhe subiu às fuças. Nando se indignou.

Mas, o Nasci era o Nasci.

Por isso, Nando relevou e tentou desfazer o mal-entendido.

De onde você tirou isso, chefia?

Nasci firmou questão.

— Não vi nada, ninguém me contou nada. Mas, desculpe, ela tem outro.

O bruto, por vezes, era mesmo implacável.

Nando sorriu amarelo e argumentou como pôde.

— Que nada, Nasci. Perguntei, uma a uma, para todas as amigas dela que me garantiram que ela vai voltar. Só precisa de um tempo. É isso…

— Nando, sentenciou o Nasci. – Você quer acreditar? Acredite! Mas, preste atenção, porque não vou falar duas vezes… Preste atenção: as amigas são dela, e não suas.

Dito e feito.

O Nasci sempre tinha razão.

TRILHA SONORA

Os autores preferidos do Nasci: Evaldo Gouveia e o parceiro Jair Amorim. Eram amigos dos tempos do rádio e da TV Record. Nasci jurava que nos levaria – a todos os malucos belezas da Redação – para conhecê-los assim que se apresentassem, como de costume, na boate “Maria” em São Paulo. Aí, sim, dizia ele, “vocês saberão o que é cantar e viver de amor”. Poético, e inveterado romântico, o Nasci.

Infelizmente, não deu tempo de vivermos essa venturosa emoção…

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