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“Não dá para esquecer”

Foto: Alile Dara Onawale/Sony Pictures

Minha interlocutora, a jovem Júlia, me faz a pergunta que lhe inquieta o senso e alma:

– É verdade mesmo tudo o que se vê no filme Ainda Estou Aqui? Jura que vivemos todo esse horror no Brasil?

O atento leitor já pôde perceber que a moça se refere ao pungente filme (de Walter Salles) sobre a prisão, tortura e assassinato do ex-deputado Rubem Paiva pelos asseclas da ditadura militar que assombrou nosso país por 21 anos, de 1964 a 1985.

A produção está em cartaz em vários cinemas com destaque para as elogiadíssimas atuações de Fernanda Torres (indicada como melhor atriz ao Globo de Ouro) e Selton Mello.

Fala-se até em indicação para o Oscar…

No cerne do roteiro, o Brasil e suas tribulações na virada dos anos 60 para os 70. Um tempo de opressão, crueldade e total desrespeito aos direitos cidadãos e democrático.

Voltemos ao questionamento que Júlia me faz e que me deixa em silêncio por prolongados segundos.

Como posso lhe responder?

– Foi bem pior, digo com ares de quem gostaria de encerrar o tema por aqui.

– Entendo, diz ela.

Quer dizer, entende mais ou menos.

Pois, curiosa, não se contém e comenta, com sabedoria:

– Deve mesmo ser bem difícil para quem viveu aquele período reencontrar na tela aquela realidade trágica sem se emocionar.

Balanço a cabeça a concordar com a análise.

Quebro meu silêncio, porém, para lhe dizer que fui uma espécie de Forrest Gump daquele período. Não cheguei a ser sofrer diretamente os horrores dos trogloditas. Apesar de que todo jovem cabeludo ou com ares de hiponga fosse suspeito.

Ainda no tempo do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, alguns colegas foram presos e torturados pelo DOI/CODI e um dos nossos professores, o jornalista Vladimir Herzog, foi brutalmente assassinado pelos capangas de verde-oliva, em 1975.

Depois em meus primeiros anos como jornalista, havia o assombramento com a censura e era comum chegar, ao jornal, informações detalhadas dos desmandos da tigrada.

Sob o tacão e a vigilância dos opressores, nada podíamos noticiar.

Não é um assunto bom de lembrar, esclareço à moça.

Mas, faço a ressalva, sejam quais forem as circunstâncias, “não dá para esquecer”.

Júlia ainda me pergunta sobre o filme propriamente dito.

Fico feliz com o interesse da moça.

Mas, isso, disse a ela, é uma boa deixa para o post/crônica de amanhã.

Estão curiosos?

A música do filme…

Ainda nenhum comentário.

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