Meninos, eu vi…
… o Seo Zito jogar.
Jogava muito.
Por isso, permitam-me reverenciar a memória do craque.
Com ele, se vai uma parte valiosa do verdadeiro futebol brasileiro.
II.
No tempo em que o Seo Zito jogava valiam mesmo as individualidades em campo.
Não havia estratégias, táticas, esquemas ou expedientes do gênero.
Não havia C.O., gerente de futebol, nem patrocínio, nem cota de televisão.
O treineiro ainda não era chamado de “profexô” e sua função era basicamente escolher os onze melhores.
Diziam até que o todo-poderoso e onipotente Osvaldo Brandão quando escalava os timaços da época dizia o seguinte:
“Fulano, você vai de 5. Beltrano vai de 8. Sicrano vai para cima dos caras, com a onze. Bom jogo, rapaziada”.
Simples e direto.
E mais não era necessário.
Porque os caras eram bons de bola. Sabiam o que faziam dentro das quatro linhas. Não corriam pro lado errado, nem choravam na hora de bater um pênalti.
III.
Meninos, perdoem-me a imodéstia, mas eu vi o Seo Zito jogar.
E vi Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe.
E vi Mazzola (que o pai lamentou quando foi vendido para a Itália) e vi Ademir da Guia (chegar jovenzinho de tudo ao Palmeiras) e Rivelino (ainda aspirante no Corinthians) e Roberto Dias (que era o esteio do são Paulo) e Djalma Santos (que certa vez usou um par de chuteiras azuis) e Carlos Alberto (que já deveria ter sido convocado na seleção de 66) e Didi e Quarentinha e Gilmar e Djalma Dias e Castilho e Ivair (o príncipe) e Nilton Santos e Altair e Rafael Chiareli e Tostão e Dirceu Lopes e Edu e Canhoteiro e tantos tantos mais que encantavam nossos devaneios de garotos de rua que amávamos e vivíamos no Planeta Bola.
Jair da Rosa Pinto, eu vi jogar já veterano na várzea do Glicério. Ele jogava no Can-Can, time que fundou ao lado outros craques que se aposentavam.
O cantor Agostinho dos Santos jogou com eles naquele sábado à tarde. Era zagueiro central e, também ali, sabia das coisas.
Foi a época de ouro do futebol brasileiro.
IV.
Não, não me esqueci de Pelé e Garrincha.
Deixei para o fim de propósito.
Meninos, eu vi Pelé e Garrincha em campo.
Não houve – e ainda não há – quem os supere.
São deuses de um futebol (arte e magia) que lamento lhes informar: não existe mais…