Foto: Arquivo Pesoal
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Ato 1.
Nasci no Brasil, mas sou de ascendência italiana, capisci ?
Dos dois ramos da família.
Por parte de mãe, os Chisolini se orgulhavam em dizer que vieram de Mantova e de Florença.
Já o vô Carlito contava que os Avezzani chegaram de Nápoles.
Por parte de pai, a coisa era mais simplória.
Martino e Leone aqui aportaram no início do século 20, vindos da Calábria.
O norte e o sul da Velha Bota têm lá suas diferenças.
Digamos que os de cima se consideram ricos e cultos e belos enquanto os do sul são mais rústicos e turrões e belos.
Toda vez que o pai fazia das suas, a mãe o repreendia com o comentário:
– Ah, calabrês, foi o diabo que te fez!
O pai sorria e deixava vida seguir naturalmente.
Orgulhava-se da origem e procedência.
Ato 2.
Meu avô – o pai da minha mãe – era chapeleiro num tempo em que os homens tinham mais cabelo e usavam chapéu.
O outro avô – o pai do meu pai – era alfaiate na mesma época em que os homens usavam chapéu e vestiam-se com ternos feitos sob medida.
A elegância era a meta.
A moda não era assim volátil – e era imprescindível usar um chapéu de qualidade e trajar-se no rigor dos bons tecidos, sem exageros.
No manual do fino trato do vô Rodolfo, um precioso toque de elegância era fechar o paletó quando o homem se punha de pé e, ao sentar-se, desabotoá-lo com discrição.
Outro momento de garbo era a reverência que se fazia ao cumprimentar uma dama ou ao passar diante de um santuário. Dever-se-ia alçar o chapéu com uma das mãos e ligeiramente curvar a cabeça em sinal de respeito.
Meus parentes moravam no Cambuci, bairro operário de São Paulo.
Não me consta que meu vô Rodolfo (que não conheci, morreu antes de eu nascer) tivesse a própria alfaiataria. Mas, era dos bons. Já o vô Carlito respondia, como mestre, pela chapelaria da Ramenzoni, importante indústria de confecção masculina paulistana.
Amanhã continua…
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(*) Escrevi o conto O Alfaiate e o Chapeleiro para participar de concurso, organizado pelo Consulado Italiano de São Paulo, sobre o legado dos 150 anos da Imigração Italiana ao Brasil, reverenciado com gestas e outras comemorações em 2024. É, na verdade, uma compilação de várias crônicas que escrevi ao longo dos anos em homenagem aos meus antepassados. Pessoalmente, acho importante fazer o registro em nosso site/blog.
Tomara que gostem.
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