Escova, o amigo que me restou da formação original da velha redação de piso assoalhado etc etc, me chama a atenção, num sopro de saudade e reverência: a ausência em minhas crônicas diárias de um dos nossos mais aguerridos parceiros dos idos e vividos tempos.
Trata-se do repórter-fotográfico e “faz-tudo”, Cláudio Micheli, precocemente desaparecido, lá se vão tantos e tantos anos, em um trágico entrevero de trânsito.
Ele sempre foi pavio curto – e, daquela feita…
II.
Bem, deixemos a tristeza de lado, e vamos homenagear o amigo Clamic.
Aliás, como bem lembra o Escova, foi o próprio Cláudio que se dera o, digamos, codinome artístico. Que, não raras vezes, gostava de usar na terceira pessoa, assim que dava conta de uma tarefa:
– O Clamic aqui é fogo, dizia com visível orgulho do seu trabalho; ma maioria das vezes, de excelente qualidade.
III.
A fama de “faz-tudo” era mais do que merecida.
O cara nos tirava de cada sufoco, que vou lhes contar!
Bastava o jornal atrasar para que ele vinha em nosso socorro. Diagramava, escrevia, ‘fechava’ páginas sempre na maior competência e rapidez.
Era rápido também nas respostas, sempre que se via pressionado.
IV.
Algumas dessas ‘broncas’ – como bem lembrou o amigo Escova – são inesquecíveis. Diria até maleducada e oportunamente inesquecíveis.
Como o dia em que o nosso mestre, o Nasci, tentou lhe ensinar como aproveitar melhor a luz natural para dar um tom mais natural à imagem. Depois de toda o blábláblá, Nasci arrematou os ensinamentos com a seguinte frase:
– Sabe como é, amigos. Trabalhei na TV Record no melhor momento da emissora. Sei o que estou dizendo…
No que o Clamic retrucou, na bucha.
– Pois é, Nasci, você disse bem. Trabalhou… SDe fosse bom, estava lá até hoje.
Pano rápido.
O próprio Nasci aplaudiu a resposta.
V.
Em outra ocasião, a redação recebeu a visita de uma candidata a vereadora para uma entrevista de campanha. Ela foi logo reclamando da foto que publicamos na eleição passada, quando também se candidatou:
– Acho que perdi a eleição por causa daquela foto. Saí horrorosa.
Clamic, autor da foto anterior e da de agora, não deixou por menos:
– Com todo respeito, minha senhora. Eu sou fotógrafo. Milagre é outro departamento.
Pano rápido.
Nem eu, nem o Escova, lembramos como terminou o bate-boca.
Mas, é certo que a senhorinha não se elegeu – e não foi por culpa da foto.
VI.
À época do trágico episódio, Clamic não trabalhava mais conosco. Uma de suas grandes paixões era a música – e, lá no seu íntimo, acalentava o sonho de ser radialista. Por isso, fora trabalhar, apesar dos nossos protestos, como programador da Rádio Capital.
Semana antes, havíamos conversado sobre a possibilidade de ele voltar ao jornal.
Ele demonstrou certo entusiasmo com a possibilidade.
Não estava feliz na nova função – era burocrática demais.
VII.
O Escova desconfia que ele sentia falta dos amigos da Redação.
– A gente ganhava mal, mas nos divertíamos. E éramos parceiros.
Infelizmente, perdemos o amigo antes disso.
Foi o melhor repórter-fotográfico com quem trabalhei; sem demérito aos demais. É que ele era único.
Ou como o Escova prefere dizer, saudoso, em meio a tantas lembranças.
– O Clamic era genial e genioso…