Estou livre do cerco aos fumantes e dos rigores da lei antifumo.
Devo isso ao Velho Aldo e às moças, lindíssimas, que nunca conheci.
Meu pai foi cirúrgico em seu veredito:
— Quer fumar, fuma. Mas, esquece o sonho de ser jogador de futebol. Não vai ter saúde para isso.
Devia ter onze, doze anos.
Perdi o mote.
Eu e todos os amigos temíamos que os respectivos pais descobrissem a tola travessura de fumar às escondidas. Inclusive tínhamos um jeito próprio de segurar o cigarro, com os dedos em forma de concha, para escondê-lo.
E aí chegava o Aldão com aquela indiferença.
Perdeu a graça.
Até porque, vou ser sincero, odiava aquele cheiro de fumaça nas mãos e na roupa.
O gosto também não era nada agradável.
Enfim…
Fiquei mais sem ação ainda quando soube da outra decisão do pai.
— Também não tem dinheiro para o cinema de domingo. Não vou sustentar o vício de ninguém.
Deixei pra lá a coisa de fumar.
Como poderia viver sem as matinês do cine Riviera?
Mais crescidinho, rapazola de tudo, dei de filar um ou outro cigarro de amigos.
Mais para fazer pose e compor um estilo.
Via nos comerciais das principais marcas fumantes milionários cercados por mulheres lindas, carros e barcos maravilhosos. Sempre em ritmo de aventura.
Só que na vida real eu continuava o durango de sempre, andando de busão e, como diz o Zeca Baleiro, “mais solitário que um paulistano”.
Além do que, estava ficando sem graça aquela vida de “serrinha”.
Os amigos não diziam. Mas era fácil deduzir o que pensavam:
— Se toca, cara. Vê se compra o cigarro que fuma.
Me toquei.
Desisti da pose e do cigarro.
Também porque aquelas moças lindíssimas viraram fumaça.
Como disse acima, eu nunca as conheci.
* FOTO no Blog: Jô Rabelo