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O dia da bruxa

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Foto: Budapeste, 2010/Arquivo pessoal

— Sou uma bruxa!

Não nos garantiu de papel passado, com timbre oficial.

Mas, foi o que disse a mim e ao grupo de turistas brasileiros que a acompanhavam pelas ruas encantadas de Budapeste, naquela manhã daquele dia de ensolarada primavera na Hungria.

Empenhados que estávamos em fotografar tudo e todos, ali pelas margens do Danúbio, não demos lá grande atenção ao comentário gracioso que a jovem guia fez em louvável portunhol para que brasileiros e argentinos lhe entendessem.

E, claro, só a pensar no assunto quando insistiu no chiste:

— Dizem que todas as mulheres do mundo são bruxas. Há alguma verdade nisso. Temos, sim, nossos poderes e nossas magias, nossos mistérios. Mas, acreditem, aqui, onde nasci e vivo, essa é a fama que a todas persegue, sem distinção. Somos bruxas, feiticeiras, adivinhas, magas.

Rimos da observação. Mas, quer saber?, não lhe demos trela.

Como disse acima, nosso negócio era clicar o que víamos pela frente e nos encantasse.

As cidades de Buda e Peste, cortadas pelo Danúbio, oferecem cenários fascinantes.

Eu, pessoalmente, não dei a mínima para a historinha de bruxas, e logo reconheci o conhecimento e simpatia que a moça exibia.

Ali, naqueles confins do mundo, tão longe de casa, concluí: estávamos em boas mãos.

Ilka – vou chamá-la assim, pois desisti de tentar entender seu nome com tantas e tamanhas consoantes que nem sequer os 16 sons de vogais do idioma húngaro conseguiram transformá-lo em algo minimamente inteligível aos meus ouvidos.

Pois, então, Ilka nos contou que Buda é a área nobre, mais residencial, e Peste é “onde todos trabalhamos”. Enumerou os monumentos, lembrou os tempos tristes do domínio comunista e que a Princesa Sissi (que deu origem a uma série de filmes com Rommy Schineider) era amada pelo povo, pois preferia viver ali, junto aos campesinos, do que no glamour da corte de Viena, onde residia o marido, o poderoso Francisco José, rei do Império Austro-Húngaro.

De volta ao Brasil, narrei a viagem aos amigos que me visitavam. Desconfio que exagerei na empolgação. Mostrei as centenas de fotos que fiz do passeio “inesquecível” – e, para provocar as mulheres presentes, contei que a bela e simpática guia, Ilka, nos revelou que era uma bruxa.

Todos riram, acharam graça e desacreditaram:

— Que bobagem!

Mesmo assim, curiosos que ficaram, quiseram conhecer a tal bruxinha. Que eu a identificasse nas fotos.

Claro, por que nãp?

E lá fui eu repassar uma a uma a penca de imagens que fiz naqueles dias.

Eu a fotografei várias vezes, junto aos monumentos, orientando o grupo. Junto à maquete da igreja de São Venceslau, o padroeiro da Hungria.

Ops.

Incrível!

Eis que surge o mistério.

Ilka, a bruxinha de Budapeste, não aparece em nenhuma das fotos.

* Publicado originalmente em 8 de maio de 2010

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