Encontro o amigo Poeta desolado com os recentes acontecimentos.
– Há muita tristeza, muito desalento. Não vou falar da intolerância, do ódio que se espalhou. Falo da vida comum, dos problemas cotidianos. Do desemprego, da depressão, da falta de sonhos.
– O que acontece com a Humanidade? Perdeu o foco?
Difícil responder para o amigo que também me sinto assim.
Aliás, quem não se sente?
Vivemos, sim, tempos estranhos que têm aparência sombria. Que nos confundem e não nos deixam ver o sol radioso que há por trás das nuvens. De alguma forma, todos estamos nessa triste toada.
Uns disfarçam melhor que outros.
No entanto, é preciso que fique claro, para cada um de nós, que esse tempo vai passar. Sempre foi assim e sempre será.
Tem tempo que é de chuva, outros são de sol.
Só precisamos estar rodeados das pessoas que nos amam e a quem amamos. E entender que a vida é o dom maior que recebemos. Não temos obrigação outra senão a de viver da maneira que nos cabe.
É o passo que faz o caminho.
Não existem erros e acertos. Existe a caminhada.
Não temos qualquer obrigação de ser o melhor, o mais isto, o mais aquilo. Temos a obrigação de seguir em frente. Viver, na boa. E só…
Somos o que somos – e ponto.
(…)
Falei, falei…
O amigo está aéreo. Não prestou atenção em nada o que lhe disse. Imerso em seus pensamentos, imagino, tenta controlar seus medos, os próprios fantasmas.
Fico com a sensação de que todos vivemos em nossas bolhas. Só nos manifestamos quando transborda o copo das emoções.
Um triste sinal dos nossos tempos…
Estava prestes a lhe dizer mais este primor de pensata. Mas, o Poeta volta do seu estado Alfa em que se encontrava e me pergunta na lata:
– Vamos para Curitiba amanhã?
(Balanço a cabeça, e desisto de mim como mago da alto-ajuda)