Foto: Arquivo Pessoal
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Trago-lhes, neste sábado, uma das canções da magnífica parceria entre Toquinho e Vinícius de Moraes, na voz de um dos grandes e inesquecíveis cantores de nossa música popular, Nélson Gonçalves.
A canção “Onde Anda Você”, desde que surgiu, recebeu dezenas e dezenas de interpretações. Mas, a meu gosto, nenhuma delas com o requinte que a gravação de Nélson lhe emprestou.
Digamos que é uma leitura com nuances mais dançantes, bem ao estilo das grandes orquestras que, nos bailes dos anos 50, faziam a alegria dos casais enamorados.
Tem levada, digamos, mais para o foxtrote, o ritmo de maior sucesso dos primeiros tempos do pós-guerra.
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Essa escolha não é vã. Remete à memória do amigo Mendonça que, vez ou outra, nos acompanhava nas insones noitadas nos idos tempos do após o fim do expediente na Velha Redação, de tantas recordações.
Numa dessas madrugadas, a turma de boêmios, mal-ajambrados e afins terminou a épica jornada noite adentro no bar temático em homenagem ao saudoso Nélson Gonçalves (1919/1998) que ainda hoje, creio, existe no bairro de Santa Cecília, em São Paulo.
Era novidade, então.
Foi escolha do próprio Mendonça, fã incondicional do Frank Sinatra dos trópicos.
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Saímos das oficinas do jornal O Estado de S.Paulo onde nosso semanário era impresso – e fomos encontrá-lo no endereço que nos passou.
Chegamos por volta das duas da manhã, o bar estava quase vazio. Dois ou três casais, se tanto. Cada qual em suas mesas, a trocar segredinhos em voz baixa no embalo das sempres românticas músicas de Nélson Gonçalves.
A um canto mais escondido, encontramos nosso amigo e anfitrião, o Mendonça, algo trêbado, a debulhar-se em incontidas lágrimas. Tentava sofregamente acompanhar, em dueto, portentosa interpretação de Nélson nos doídos versos de Vinícius:
“E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?“
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Que cena, amigos!
Não sei lhes descrever o misto de drama e comédia que nos envolveu.
Chorar junto ou soltar o riso frouxo?
Lembrem-se sempre: éramos jovens, inconsequentes, e algo insensíveis.
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Diante da complexidade da situação, foi o chefe da comitiva, nosso colunista e guru Nasci, que nos revelou solenemente a essência da cena.
Todo esse pranto fazia pleno sentido.
“Houve uma vez uma Sra. Mendonça. Era linda, muito linda e assim, como chegou, também se foi para total solidão do nosso companheiro, o Mendonça.”
Nasci, ainda em tom solene, foi o porta-voz da nossa solidariedade:
“Chora, Mendonça, chora. No seu lugar, acredite, todos nós choraríamos”.
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O que você acha?