Eram próximos, bem próximos. Mas, não tão próximos o quanto ele gostaria.
Por uns tempos, andaram assim. Viam-se com frequência, riam por bobagens, lembravam esta ou aquela canção. E falavam por falar de um futuro que parecia ser exótico e nunca chegaria.
A vida tem suas nuances, seus mistérios e desígnios. E sem lá grandes explicações, causas ou desavença, acabou por separá-los sem que se concretizasse a provável promessa do que seria – e não foi.
Acabaram por se perder no risque e rabisque da existência. Torto e sem rumo.
Um tantim parecido com ele, e com ela.
São o que são, e não douram a pílula.
II.
Roda que que gira, mundo que roda, hora e outra se trombam e engatam um conversê – quase um cantar – tão genérico e superficial que não parecem ser eles mesmos, mas seres bem parecidos com ambos.
Representam personagens algo diversos. Indiferentes um ao outro.
Ele diz que a vida continua ‘uma correria só’. Que faz isso, aquilo e aquil’outro. Além do que, há um tantão de projetos pra tocar que… nossa… ufa… nem lhe conto.
Ela dá o troco. Evasiva, diz que vive um grande amor. Finalmente, encontrou a pessoa certa. Nunca havia conjecturado a possibilidade, mas agora “olha, está pensando até em juntar os trapinhos”.
III.
E riem e fingem estar se divertindo pra valer com o muito ou pouco que lhes acontece.
Depois seguem, cada qual o seu caminho. Dar conta da rotina que lhes cabe e que, como toda rotina, é bem igual e, muitas vezes, sem sentido.
Por algum tempo, ele continua a pensar nela.
– Talvez tenha sido a minha derradeira chance de ser feliz.
– Como assim? – eu lhe pergunto com o espanto natural de interlocutor que nada entende das sinuosidades dos amores que deveriam ser e não são.
Digo e insisto:
– E ela?
– Ela? Sinceramente penso que tem a mesma insegurança que eu. É bem estranho mesmo. Um perder e se achar que dá medo…
– Que conversa maluca! E você me fala isso sorrindo. Como assim? Não consigo entender sua lógica.
Ele me responde, de forma conclusiva, inspirado nos versos de Caetano:
– Também nada sei. Em outras palavras, amigão, eu sou muito romântico.