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Paulo Gustavo (1978/2021)

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Foto: Thales Bretta e Paulo Gustavo (Reprodução/Instagram)

Todas as manhãs – ou quase todas, as de sol principalmente – saio à estreita varanda (quase um balcão) do apartamento onde moro no 19° andar para, ali, fazer minhas orações e também matutar sobre o que devo ou não devo escrever.

Uma rotina de introspecção com olhos abertos para a linha do horizonte, a cidade, a vida.

Um momento de reflexão que a idade e o isolamento social me impuseram e, a bem da verdade, cumpro de bom grado.

Difícil entender este árido momento nunca dantes imaginado.

Muitas perguntas, quase nenhuma resposta.

E assim, como ensina Rita Lee naquele roquezinho maneiro, “na medida do impossível, vai dando pra se viver.”

Não podia ser diferente.

O assunto que vejo em todos os noticiários é a calamitosa realidade que enfrentamos à mercê da vacina e da nossa própria sorte..

O triste destaque é a inclusão do nome do ator Paulo Gustavo em meio a trágica lista de mais de 3 mil mortes causadas pelo covid-19 no dia de ontem no destrambelhado país chamado Brasil.

Não chegou a ser surpresa tal anúncio visto que o ator vinha nessa luta pela sobrevivência há 53 dias.

A notícia enlutou a todos  os amigos, fãs e mesmo àqueles que, como eu, pouco sabem da vitoriosa carreira do artista.

Não assisti à nenhuma das comédias do ator no cinema ou mesmo em reprises na TV.

Sei que sua personagem de maior sucesso era a Dona Hermínia, um estereótipo das donas de casa, típicas da classe média, cheia de razões e atitudes.

É só uma impressão, ok?

Posso estar enganado.

Só a conheço de chamadas e eventuais anúncios.

Mas tenho uma lembrança que sempre associei a ele.

Há coisa de 10 ou 12 anos ou mais, era comum que eu encerrasse minhas noites assistindo ao Jô Soares.

Naquela ocasião, entre um bloco e outro do programa, chamou minha atenção um comercial de uma peça de teatro – desconfio que era um monólogo – que tinha como protagonista um ator magrelo, careca e de voz estridente.

Dia sim, dia não, lá estava o comercial.

E eu, dentro ceticismo que me é próprio, me punha a perguntar: quem se moveria do aconchego do lar para assistir, num teatro que caracterizei como mambembe, um comediante desconhecido em meio à fria noite paulistana.

Quanta coragem, pensei comigo mesmo. Dele e dos eventuais espectadores.

De certa forma, e bem ao meu estilo – sou uma contradição ambulante -, passei a admirar a determinação do rapaz.

Ele parecia acreditar no próprio sonho.

E isso é bonito!

Isso é vida!

Não me recordo se semanas ou meses depois, o próprio Jô Soares o entrevistou.

Não foi lá aquela conversa memorável, pois pouco me recordo do que falaram.

Lembro apenas que tal papo reforçou minha impressão: o cara é determinado, corajoso e acredita no que faz.

Como disse no parágrafo anterior e reitero agora: acho bonito – e aplaudo – as pessoas que imaginam, acreditam e põem em prática aquilo que imaginam e acreditam.

São elas que, mesmo indiretamente, nos fazem acreditar em nós mesmos.

São os necessários.

Rezemos por Paulo Gustavo.

Rezemos pelas milhares de vida que foram ceifadas por esta trágica pandemia.

Rezemos por nós.

 

 

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