Foto: Thales Bretta e Paulo Gustavo (Reprodução/Instagram)
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Todas as manhãs – ou quase todas, as de sol principalmente – saio à estreita varanda (quase um balcão) do apartamento onde moro no 19° andar para, ali, fazer minhas orações e também matutar sobre o que devo ou não devo escrever.
Uma rotina de introspecção com olhos abertos para a linha do horizonte, a cidade, a vida.
Um momento de reflexão que a idade e o isolamento social me impuseram e, a bem da verdade, cumpro de bom grado.
Difícil entender este árido momento nunca dantes imaginado.
Muitas perguntas, quase nenhuma resposta.
E assim, como ensina Rita Lee naquele roquezinho maneiro, “na medida do impossível, vai dando pra se viver.”
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Não podia ser diferente.
O assunto que vejo em todos os noticiários é a calamitosa realidade que enfrentamos à mercê da vacina e da nossa própria sorte..
O triste destaque é a inclusão do nome do ator Paulo Gustavo em meio a trágica lista de mais de 3 mil mortes causadas pelo covid-19 no dia de ontem no destrambelhado país chamado Brasil.
Não chegou a ser surpresa tal anúncio visto que o ator vinha nessa luta pela sobrevivência há 53 dias.
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A notícia enlutou a todos os amigos, fãs e mesmo àqueles que, como eu, pouco sabem da vitoriosa carreira do artista.
Não assisti à nenhuma das comédias do ator no cinema ou mesmo em reprises na TV.
Sei que sua personagem de maior sucesso era a Dona Hermínia, um estereótipo das donas de casa, típicas da classe média, cheia de razões e atitudes.
É só uma impressão, ok?
Posso estar enganado.
Só a conheço de chamadas e eventuais anúncios.
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Mas tenho uma lembrança que sempre associei a ele.
Há coisa de 10 ou 12 anos ou mais, era comum que eu encerrasse minhas noites assistindo ao Jô Soares.
Naquela ocasião, entre um bloco e outro do programa, chamou minha atenção um comercial de uma peça de teatro – desconfio que era um monólogo – que tinha como protagonista um ator magrelo, careca e de voz estridente.
Dia sim, dia não, lá estava o comercial.
E eu, dentro ceticismo que me é próprio, me punha a perguntar: quem se moveria do aconchego do lar para assistir, num teatro que caracterizei como mambembe, um comediante desconhecido em meio à fria noite paulistana.
Quanta coragem, pensei comigo mesmo. Dele e dos eventuais espectadores.
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De certa forma, e bem ao meu estilo – sou uma contradição ambulante -, passei a admirar a determinação do rapaz.
Ele parecia acreditar no próprio sonho.
E isso é bonito!
Isso é vida!
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Não me recordo se semanas ou meses depois, o próprio Jô Soares o entrevistou.
Não foi lá aquela conversa memorável, pois pouco me recordo do que falaram.
Lembro apenas que tal papo reforçou minha impressão: o cara é determinado, corajoso e acredita no que faz.
Como disse no parágrafo anterior e reitero agora: acho bonito – e aplaudo – as pessoas que imaginam, acreditam e põem em prática aquilo que imaginam e acreditam.
São elas que, mesmo indiretamente, nos fazem acreditar em nós mesmos.
São os necessários.
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Rezemos por Paulo Gustavo.
Rezemos pelas milhares de vida que foram ceifadas por esta trágica pandemia.
Rezemos por nós.
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O que você acha?