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Pouca coisa sobre o amigo PoucaCoisa

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Foto: Wilson Luque

Uma historieta dos anos mais antigos…

Era um jovem algo tímido que, vez outra, aparecia na velha redação de piso assoalhado, máquinas de esrever barulhentas e grandes janelões para a rua Bom Pastor. Era o que então se chamava contínuo de alguma associação local – não lembro se Rotary, Lions ou outra qualquer do gênero. Chamava-se Marcelo, nome comum à época, talvez inspirado no galã italiano Marcelo Mastroianni. Ora vinha nos trazer alguma correspondência ora vinha retirar um punhado dos jornais que circulava às sextas-feiras para distribuir aos diretores da tal associação.

Sempre que podia, Marcelo demorava-se alguns momentos a mais entre nós.

Ficava por ali. Ajeitava-se num dos bancos, com ar admirável.

Parecia gostar do movimento que olhava com curiosidade. Parecia gostar da sinfonia das máquinas de escrever e especialmente das provocações que nós, os habitantes daquele planeta único, trocávamos, em tom de gozação, quase o tempo todo.

Havia até uma acirrada competição para ver quem colocava o melhor e mais popular apelido em quem.

Éramos também jovens – não tão jovens quanto ele –, inconsequentes e falastrões, como dizia o Tonico Marques, um dos donos do jornal e guru mor daquela turma de mal-ajambrados.

Aliás, foi o próprio Marcão que nos chamou a atenção para o jeitão triste do garoto. Era caladão. Olhava-nos como quem olha para alienígenas de um mundo que ele próprio gostaria de habitar.

Aos poucos, fomos interagindo com Marcelo. Afinal, éramos jovens, inconsequentes, falastrões, mas, creiam, tínhamos bom coração.

Continuava calado, tímido e tristonho, mas já era um dos nossos.

Estava tão enturmado que já aceitava sem constrangimento o café da Dona Santa, nossa copeira, e, de quando em quando, até arriscava um palpite no bolão que fazíamos para os jogos do fim de semana.

Marcelo era santista, se não me engano.

“Viúva do Pelé”, provocávamos e, em resposta, tínhamos um meneio de cabeça e brevíssimo sorriso.

Desconfio que foi numa dessas ocasiões que um dos nossos – não lembro quem, ô memória – tomou para si o questionamento:

“Garoto, você é feliz?”

E Marcelo respondeu depois de prolongado silêncio:

“Sou… Quer dizer, pouca coisa”.

Desde então, o Marcelo desapareceu. Quem nos visitava, a partir de então, era o amigo PoucaCoisa, com direito a banquinho próprio, plaquinha de isopor com o nome grafado e tudo mais. Quem criou a logomarca foi a moça da Arte Final, fundindo as duas palavras.

Posso lhes afirmar que, finalmente, ele se sentiu parte da nossa imaginária e mambembe confraria.

Em tempo

O post O amigo PoucaCoisa, notas e canções, publicado em 18 de outubro, está entre os mais acessados do mês. Houve quem me perguntasse – até porque o PoucaCoisa já apareceu como personagem de crônicas anteriores – quem era o tal e o qual. Vai daí que resolvi fazer o esclarecimento. Com a devida ressalva: sei pouca coisa além do que lhes contei sobre o PoucaCoisa. É amigo de fé, mas não vejo há um tempaço.

TRILHA SONORA

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