Eu tive um MP Lafer.
Vermelho. Ano 1976.
Comprei-o de segunda mão.
Fiquei ano e tanto com o carrinho, e foi divertido enquanto durou.
II.
Ops…
Cabe um esclarecimento aos leitores mais jovens.
MP Lafer era uma réplica de um famoso modelo de veículo que fez história lá nos muitos antigamentes: o conversível MG, de dois lugares e capota de lona.
III.
A bem da verdade, eu o comprei em uma loja de carros usados num impulso. Queria mesmo me livrar de um Passat 81 a alcóol que fez a proeza de me abandonar na rua da amargura por nove meses e por defeitos distintos.
Repito: nove vezes, em uma época em que eu trabalhava até de madrugada no jornal em São Paulo embora morasse em são Bernardo do Campo.
Os vizinhos, aliás, até se habituaram com o ruído do caminhão guincho chegando altas horas da noite.
Não foi fácil.
IV.
Não posso reclamar o MP Lafer.
Ele nunca me deixou na mão. Sempre me levou e trouxe sem maiores sustos.
Qualquer rateada que desse era facilmente contornada pelo primeiro curioso metido a mecânico que encontrasse pela frente.
O carro tinha motor de Fuscão e era montado sobre o chassi de Brasília – ou vice e versa.
V.
Alguns amigos da velha Redação de piso assoalhado debochavam que aquele era o próprio calhanbeque que deu origem à canção do Roberto, e que eu não era um simples proprietário de um veículo e, sim, um colecionador.
No fundo, no fundo, eu me imaginava um Gatsby apaixonado – eu assistira à versão anterior do filme que entrou em cartaz ontem, com Robert Redford como protagonista.
Vocês sabem que eu tenho uma tendência a ficar imaginando coisas.
Enfim…
VI.
Impressionar, vale dizer, o carrinho até impressionava. Mas, bastava rodar alguns metros para esmorecer todo o encanto do(a) eventual acompanhante. O MP sacudia e saracoteava mais do que o trio elétrico da Claudinha Leite.
Eu me habituara aos saltos – e seguia em frente. Bibi… Bibi…
VII.
O que me incomodava mesmo era uma goteira que havia bem na junta do parabrisa.
O filete de água que escorria deixava o porta-luva úmido, deselegante.
Tentei consertar o lugar por várias vezes. Em vão.
VIII.
Foi então que tomei a decisão de trocar toda a capota, por outra de impermeabilidade absoluta e garantida.
Esperei ansioso a primeira chuva para rejubilar-me da minha decisão.
IX.
Três ou quatro dias depois, houve um moderado aguaceiro –e e lá fui eu desafiar a intempérie com o carrinho.
Ufa!
Entrou água por todos os cantos, as juntas e as costutras.
Sai encharcado, pingando…
X.
Não tive dúvidas.
Vendi o carro no dia seguinte.