Foto: Painel em exposição sobre livros em SP/Arquivo/Divulgação
…
Vamos tratá-lo por G. aqui no texto.
É a inicial de seu prenome.
G. parece-me ser um bom jovem.
Tem 17, 18 anos, por aí.
Está terminando o ensino médio e me disse querer cursar algum curso na área de Tecnologia e Informática.
“É um sonho.”
Para defender uns bem-vindos trocados, o garoto faz um frila como atendente na recepção da clínica de fisioterapia onde me exercito “nos conformes da idade”, expressão do amável ortopedista que fez o sacrossanto encaminhamento às sessões.
…
Já havia reparado que G. presta uma atenção danada nos bate-papos que tenho especialmente com o Pedro, outro senhorzinho, como eu, a cuidar das dores lombares no mesmo estabelecimento.
Digamos que eu e o Pedro nos fizemos amigos na dor nas costas e no ciático.
…
Pedro é corintiano; eu, palmeirense. Desconfio que seja essa nossa única divergência que, a bem da verdade, nem sequer chegamos a pôr em pauta em nossas conversas fiadas que fazem a sessão passar de forma mais suave e leve.
Falamos mais sobre a vida, uma ou outra curiosidade do dia e, inevitável, resgatamos velhas e boas memórias dos tempos idos, tidos e havidos.
Tudo sob o olhar e os ouvidos atentos do rapazote.
Dias atrás, entre um agendamento e outro, G. me confidenciou sorridente:
“Gosto de ouvir suas histórias.”
…
Fiquei feliz, óbvio – e um tanto gabola.
Tentei não deixar transparecer.
“Velhinhos como eu gostam de uma boa prosa”, respondi.
Depois me penitenciei aos meus botões:
Falo demais, eu sei.
…
No começo desta semana, outra surpresa.
G. disse que gostaria de comprar um livro meu.
“Gosto das suas histórias”, repetiu.
Mas, fez a ressalva.
Não é chegado à leitura.
Nunca leu um livro-livro para valer. Só uns trechos aqui, ali e acolá.
Alguns professores, no entanto, já lhe recomendaram que, no momento em que se encontra, de definição do futuro profissional, é importante ter o hábito da leitura.
“Há muitos bons livros na praça”, ressaltaram os mestres.
Por isso, G. decidiu: quer começar desde já – e com um livro meu.
…
Uia.
Fiquei lisonjeado, mas apreensivo. Que responsa!
Expliquei que os livros que escrevo tem um conteúdo, digamos, variado e generalista.
Não sei se se encaixam ao que lhe disseram os professores.
São coletâneas de crônicas ou artigos que publiquei nos jornais onde trabalhei. Tenho dois romances, um livro de contos (que acho divertidinho), mas, de resto, creio, nem sequer tangenciam aspectos da sua (dele) área de interesse, as tais novas tecnologias ou da ciência da computação.
Mesmo assim, ele, simpático e gentil, insistiu no livro de minha autoria.
“Acho que vou gostar.”
…

Ontem, aproveitei que não havia outros pacientes na sala de espera e, discretamente, lhe presenteei com um exemplar do meu livro Volteios – Crônicas, lembranças e devaneios, lançado pela Editora Terceira Margem, em 2014.
Achei o mais adequado pela diversidade de temas que as crônicas, ali publicadas, abrangem.
Não sei…
Agora, eu é quem estou na expectativa.
Tomara que goste!
Os mestres lhe recomendaram “bons livros”.
…
Em todo caso, na dedicatória, caprichei no meu desejo e torcida:
“Que seja o primeiro de muitos. Invada o mundo das letras e dos sonhos sonhados e vividos. Sempre haverá proveito na leitura. Abraços fraternos.”
…
…
O que você acha?