Não gosto nem de lembrar. De tão humilhante que era.
Foi no tempo em que os estádios eram repartidos – metade, metade, ou quase isso – pelas torcidas dos dois times que se enfrentariam.
Ouvíamos calados, impotentes o delírio vindo da banda de lá das arquibancadas a contagem que nos corroia alma e coração:
Um.
Dois.
Três.
(…)
Dezesseis…
O mais dilacerante vinha agora, aquele corinho doído e triste:
Parabéns a você
Nesta data querida…
II.
Era assim que eles – os do lado de lá – deliciavam-se com os anos de fila que o Palmeiras curtia, sem ganhar nenhum título desde 1976.
Diria que a zoeira que hoje nos impingem por disputarmos a segunda divisão é fichinha perto daquele tripudiar.
III.
De nada adiantava a nossa argumentação.
Batemos na trave tantas vezes. Por detalhes, não nos sagramos campeões.
Em 1978, o Arnaldo “a regra é clara” Cézar Coelho inventou um pênalti do Leão em Careca e quebrou o Palmeiras na final do Brasileirão, frente ao Guarani. Ano seguinte, foi a vez do presidente Vícente Matheus, daquele outro time, adiar a final do campeonato paulista para início de 1980, quebrando o ritmo de vitórias e goleadas do Palmeiras, de mestre Telê Santana.
Em 1986, foi aquela esparrela diante da Inter de Limeira, e lá se foi mais um Paulistão. Três anos depois, a acusação de dopping de Mário Sérgio fez a maionese desandar, quando o Palmeiras, do então técnico Leão. No início dos anos 90, os embates com o São Paulo, sempre com resultados suspeitos, a nosso ver, claro.
IV.
Nada disso valia.
Valia mesmo aquele zumbido ampliado, retumbante, dos estádios lotados (no tempo em que os estádios lotavam) a nos infernizar:
Um.
Dois.
Três.
(…)
Dezesseis…
Parabéns a você
Nesta data querida…
V.
Pior é que passamos anos a fio – a década de 60 e quase toda a de 70 – a entoar a mesma cantilena, espezinhando as aflições daquele outro time que passou 23 anos na mais longa fila da história do futebol brasileiro.
Naqueles tempos, eles eram os algozes – e nós, as vítimas.
Não era fácil.
VI.
Foi então que aconteceu aquele 12 de junho de 1993, inesquecível, heróico, histórico. As dores se dissiparam aos pés Evair, Edmundo, César Sampaio, Tonhão e Cia.
Foi uma sapatada e tanto no arquirrival, aquele outro time.
A vida voltou a nos sorrir.
O amor é verde, meus caros, como ensinou o grande Moacir Franco.