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Tchinim e o craque

Não lembro se, naqueles idos dos anos 50, início dos 60, Nilton Santos era chamado de ‘Enciclopédia do Futebol’, como jornais e jornalistas o definem nesses dias (ontem e hoje) em que lamentamos sua morte.

Deveria ser.

Imagino que possa ser mais uma das geniais caracterizações de Nélson Rodrigues.

Não tenho certeza.

II.

Àquela época, o pai de Tchinim e os amigos, a italianada que fazia ponto no Bar Astória da rua Lavapés, só o chamavam de o “Pai da Bola”.

Na verdade, era assim que chamavam os grandes da época.

Zizinho, por exemplo. Mauro Ramos de Oliveira, Leônidas (que não vi jogar), e outros poucos.

Pelé não havia estourado e, quando explodiu na Copa de 58, já virou o Rei do Futebol.

Desconfio que a expressão estava em voga, como se dizia antigamente.

Assim, mesmo jogando em um clube do Rio, o nome do lateral do Botafogo era indiscutível na seleção brasileira que todos escalavam a bel prazer, na roda de conversa e cerveja. Tínhamos bons laterais esquerdos no futebol paulista – Geraldo Scotto (no Palmeiras), Dalmo (Santos), Riberto (São Paulo), Oreco (Corinthians), reserva de Nilton no Mundial da Suécia -, mas a titularidade do craque era absoluta.

III.

Só o garoto Tchinim, na iminência de seus nove, dez anos, discordava da opinião da turma. Preferia o voluntarioso Altair, do Fluminense.

Os adultos riam do menino.

– Mas, que caspta, essa miniatura de gente diz, dizia um.

– Quer ser do contra, dizia outro.

E ninguém o levava a sério.

Só o pai sabia dos reais motivos da preferência do garoto.

Nos ‘rachas’ entre os moleques, no campinho da rua Apiaí, Tchinim era um becão dos mais esforçados, ralava-se todo dando carrinho nos atacantes adversários, empenhadíssimo na marcação. Não sabia jogar de cabeça erguida, com toques sutis e elegantes, no melhor estilo de Nilton Santos.

Ou seja, o futebolzinho praticado por Tchinim se aproximava (com muitíssima boa vontade) do estilo do jogador do tricolor carioca.

IV.

Importante salientar que, naqueles tempos, o Canal 100, cinejornalismo exibido antes de cada sessão, dava show em imagens de lances dos clássicos do futebol carioca. Alem do que, e principalmente, o Torneio Rio/São Paulo, com os cinco melhores de cada cidade, era interessantíssimo.

Um encontro entre o Santos e o Botafogo reunia torcedores de todos os clubes, fosse no Maracanã, fosse no Pacaembu.

Imaginem o duelo de gigantes.

V.

Pois então, querem uma mostra?

O ataque do Santos era o tal: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O do Fogão não ficava atrás: Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.

VI.

Tchinim queria ver todos.

Insistia com o pai, com os amigos do pai, com os tios…

Não podia perder.

Queria ver Nilton Santos jogar.

Sempre soube distinguir entre sonho e realidade.