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Um quase beijo

E amaram-se como dois animais…

Só depois corpos cansados e ainda aninhados, largaram-se na cama.

Deixaram-se estar com pensamentos longes, distantes, algo difusos.

Ambos silenciosos.

Ambos prospectando coisas de uma vida que viviam fora dali.

Nenhum dos dois havia planejado aquele enrosco que já durava tantos anos – e, longe dos olhos de todos e das convenções, lhes fazia tão bem.

Ele deixou escapar um sorriso que acendeu a curiosidade dela, desconfiada que só.

— O que foi? O que está pensando?

Ele retrucou, ainda distraído, sem saber se valeria a pena responder:

— Nada de importante.

A moça insistiu ainda mais ensimesmada.

— Pode ir falando, vamos… O trato é de não termos segredo. Vai, diz…

“Quer saber mesmo?” – disse pondo-se a rir mais escancaradamente. “Está bem, eu conto.”

Suspirou antes de continuar.

— Estava pensando em como tudo começou.

Foi a vez dela se fazer de desentendida.

— Faz tanto tempo que nem me lembro mais, sabia?

Ele duvidou – e tratou de lhe refrescar a memória.

— Era seu aniversário, não lembra? Fui cumprimentá-la, como todos fizeram no
escritório e, sem querer querendo, nossos lábios se roçaram na hora dos beijinhos. Você fez de propósito.

Ela fingiu espanto – e se fez de rogada.

— Imagina se eu faria isso? Você tinha um caso com a minha melhor amiga, e eu sempre fui uma moça ajuizada. Até parece que ia me dar assim ao desfrute…

“ … Com um cara com a reputação de canalha, como eu”, completou com ares de malandro.

E continuou:

— Começamos com um quase beijo. Quem haveria de dizer que tantos anos depois continuaríamos assim, nesse grude?

Ela tratou de revidar e desconsertá-lo só para reavivar a memória do “inocente”:

— Quase beijo, uma ova! Você me seguiu até o cantinho do café – e lá me “obrigou” a beijá-lo pra valer, lembra?

Balançou a cabeça negativamente. Jamais faria isso. Tinha um caso antigo com a melhor amiga dela. Era maluco, sim; mas, não a esse tanto.

— Tá bom. Quem não te conhece que te compre. Você ameaçou contar do meu aniversário para o Afrânio, aquele babão da Expedição que gostava de se esfregar na gente, quando nos dava bom-dia. As mulheres fugiam dele, não lembra? Imagine "os parabéns" que ele me daria…

Claro que ele lembrava. Lembrava direitinho. Sempre foi relativamente criativo com as mulheres. Só fez questão de esclarecer uma coisinha:

— Não foi propriamente uma ameaça. Disse que trocaria o meu silêncio pela chance de eu parabenizá-la novamente. Ali, naquele momento, longe de tudo e de todos – e você topou… Tá arrependida? Então, me devolve aquele beijo já, agora… Vamos…

Com um balançar de cabeça, ela disse que não. Fez mais e melhor. Afastou o lençol e partiu pra cima dele, e de um novo começo…