Ele me conta a história com jeito de quem preferiria não contar. Fala devagar, escolhe as palavras e, vez ou outra, balança a cabeça, como a dizer:
– Por que estou lhe dizendo isso?
II.
É sobre uma pequena crônica que escrevi no Blog há um bom tempo. Chama-se “Uma Canção do Passado” (26.10.2006) e que também está no livro “Volteios – Crônicas, lembranças e devaneios”, lançado em 2013.
Ele a conheceu na versão impressa.
Só depois veio ao Blog para relê-la e, na sequência, quis conhecer a canção “Bem Que Eu Não Queria Amar Você”, interpretada por Herondy Bueno (o mesmo que anos depois fez sucesso, formando dupla com a esposa Jane). Para tanto, foi ao bendito Youtube e, ao contrário do eu escrevi ali, encontrou a música facilmente.
– Você se lembra da crônica e da canção?
III.
Entre o espanto e a surpresa, tentei desconversar. Disse que talvez não fosse mais o caso, pois diante das vicissitudes dos dias que correm acabei por perder de vista a canção e, mesmo o post/crônica, eu lembrava apenas muito vagamente.
– Uma pena, ele retrucou.
E continuou:
– A canção é linda, coloquei na minha playlist e a escuto sempre que posso… Engraçado é que acontece comigo exatamente o que, naquele tempo, acontecia com você…
– O que acontecia comigo? – pergunto, com receio de ouvir a resposta.
IV.
Ele sorri encabulado:
– Ora, vez ou outra, sem mais aquela, eu me pego cantarolando baixinho os versos tristes da melodia e a lembrar uma certa moça que perdi de vista e agora só me reaparece em sonhos.
É minha vez de ficar sem graça:
– Eu escrevi isso?
– Não exatamente com essas palavras. Mas, sugeriu. Eu, pelo menos, entendi assim…
V.
Meu espanto vira susto. Perplexidade – e prometo reler o texto assim que puder.
Aproveito para lhe perguntar por que não tenta reencontrar a moça. Hoje, via redes sociais, não é tão difícil assim. Talvez no Face, no Instagram, no grupo de velhos amigos ou no de amigos dos amigos… É muito possível que…
– Melhor, não. Prefiro deixar a ela e a mim, como éramos, encantados, naquele momento único de nossas vidas… Entendeu?
VI.
É minha vez de balançar a cabeça, entre o sim e o não.
– Eu escrevi isso, pergunto mais uma vez.
– Não. Não, naquele texto… A conclusão é minha. Mas, fique à vontade se quiser aproveitá-la em outra crônica. Afinal, a vida sempre se repete…