Foto: uai.com.br
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Eram assim aqueles dias em que a jovem Vanusa deu os primeiros passos como promissora cantora de música popular.
O rádio resistia ao assédio da TV e continuava a ser nosso principal veículo de comunicação.
Falava com voz empostada – e consagrava as canções – nos quatro cantos do país.
Reconheça-se, porém, era flagrante que a parceria com a TV mostrava-se cada vez mais decisiva e interessante para músicos, compositores e intérpretes.
Vivíamos a chamada Era dos Festivais.
Segunda metade dos efervescentes anos 60.
A década em que, apesar de todos os pesares, era possível cantar e sonhar.
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O Canal 7 – TV Record era líder absoluto de audiência.
Possuía amplo cast de artistas exclusivos, os principais nomes do nosso cancioneiro, e uma grade de programação recheada de atrações musicais. Para todos os gostos e estilos. A saber: O Fino da Bossa, Jovem Guarda, Bossaudade, Show em Symonal, Corte Rayol Show, Astros dos Discos, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, Show do Dia 7, além, óbvio, dos buliçosos festivais da canção.
Por ser jovem, loira, usar minissaia e cantar ingênuas baladas românticas, Vanusa foi logo identificada como parte da trupe da Jovem Guarda que, como todos sabem, tinha Roberto Carlos como rei, Erasmo como fiel escudeiro e Wanderléa como princesa.
Explique-se que até então essas classificações por gêneros musicais existiam e eram radicais. Uma turma não frequentava a outra. MPB era MPB. Velhinhos de um lado. Roqueiros de outro. Houve até passeata da turma do violão contra a invasão da guitarra elétrica no Brasil.
Juro que é verdade!
Foi o Tropicalismo que, felizmente, derrubou o muro.
“Caminhando contra o vento/sem lenço/sem documento/eu vou…”
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A bem da verdade, Vanusa nunca foi exatamente uma típica jovem-guardiana como eram, por exemplo, Waldirene (a garota papo-firme que o Roberto falou) e Martinha (o Queijinho de Minas).
Talvez por isso a cantora logo foi marcar presença no programa rival (O Bom/Canal 9 – TV Excelsior) comandado por Eduardo Araújo que tinha como partners Silvinha e o imprevisível Tim Maia.
Voltou a Record para breves aparições em O Pequeno Mundo de Ronnie Von.
Mas surpreendeu a todos quando apareceu como intérprete no Festival da Canção de 1969 na Globo.
Defendeu a extrovertida “Comunicação”, composição de Hélio Matheus e Edson Alencar.
Foi muito aplaudida – e acrescentou ao sucesso, que já fazia, o prestígio junto à crítica especializada. Que àquela época, acreditem, era crítica e especializada.
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A mineirinha Vanusa (que nasceu em Cruzeiro, interior de São Paulo, e foi criada em Uberaba e Frutal no Triângulo Mineiro) sempre procurou ter uma carreira independente distante de rótulos e classificações. Tanto como cantora, como compositora e atriz. Sim porque um dos momentos de maior popularidade foi o trabalho que desenvolveu em Os Adoráveis Trapalhões na TV Excelsior em São Paulo.
Isso mesmo, amigos, é o que imaginam.
Digamos que foi o embrião dos afamados e globais Trapalhões. Só que, naqueles idos, Vanusa contracenava com o humorista Renato Aragão, os cantores Ivon Cury e Wanderley Cardoso, além do atleta de Vale-Tudo, Ted Boy Marino. Dedé Santana e o Sargento Pincel atuaram em um ou outro episódio.
Um sucesso estrondoso.
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Vanusa também foi notícia por romances que, digamos, davam o que falar.
Na época do programa, namorou Wanderley Cardoso.
Mas, consta que o grande amor da sua vida foi outro cantor, Antônio Marcos.
Viveram uma relação apaixonada repleta de idas e vindas.
Aqueles amores que, diz a lenda, nunca terminam.
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A cantora também foi casada com Augusto César Vanucci, então diretor do Fantástico, da TV Globo.
Aliás, é dela a gravação original para o tema de abertura do programa que, com o passar dos anos, ganhou diversas leituras, quase todas instrumentais.
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As lentes dos anos 70 e 80 já captaram uma Vanusa amadurecida como intérprete. Não escolhia estilo ou gênero. Cantava o que bem lhe agradasse.
Fez gravações definitivas para “Manhãs de Setembro”, “Sonhos de Um Palhaço” e, a minha preferida, “Paralelas” de Belchior, entre outras.
Enfim…
Vanusa, todos sabem, morreu domingo aos 73 anos, em Santos.
Seu último trabalho foi o CD “Vanusa Santos Flores”, com direção impecável de Zeca Baleiro, gravado em 2015.
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Permitam-me encerrar com uma pensata.
Com o transcorrer dos anos, nós, os mais vividos, costumamos dar mais atenção às nuances do que ao todo propriamente dito. A partir daí, fazemos uma resignificação mais equilibrada para momentos em que, atropelados pelos compromissos de então, passamos batidos por fenômenos, fatos e pessoas.
Penso que, nessa releitura, a obra de Vanusa, que anda um tanto esquecida mesmo entre cultores e pesquisadores da MPB, merecesse o tal olhar mais alongado.
Vai nos surpreender. Pela sinceridade e despojamento.
Não lhe faltou coragem para enfrentar o desafio de cantar o que julgou ser a própria verdade.
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AMANDIO MARTINS
10, novembro, 2020Caro Rodolfo,
Irretocável! Cirúrgico!
Que texto…nos trouxe a extraordinária carreira desta que considero uma das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos.
Emocione-me.
Que Deus conforte familiares, amigos e fãs (dentre esses, eu).
Deixa saudades.
Viva a Vanusa!
Viva, Vanusa, onde vc estiver.
Abcs