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Sabe com quem está falando?

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Foto: Arquivo Pessoal

Essa expressão desprezível é INFELIZMENTE uma antiga e carcomida instituição nacional.

Assim como outras tantas (tipo: “Cidadão, não! Engenheiro civil…” ) do mesmo nefando  quiLATE que ouvimos amiúde (ainda mais) nesses tempos destrambelhados e cínicos de valores invertidos.

“Você sabe com quem está falando?”

Toda vez que eu a ouvi – e INFELIZMENTE eu a ouvi muitas vezes – causou-me enorme constrangimento – e a certeza doída de que quem assim se manifestou se revela, como pessoa e cidadão, alguém bem mais desprezível do que a tosca expressão.

Sempre que possível em tais circunstâncias estive ou me posicionei ao lado de quem a ouviu; nunca ao lado dos boquirrotos. Independente do pseudo status social que os ímpios ocupam entre nós.

As otoridades nunca me fizeram a cabeça.

Não é algo de que me louvo e/ou proclamo.

Não sou nada, nunca serei nada…

Mas, porém, contudo, todavia…

Toda vez que me deparo com episódio bisonho, como o do tal da semana que passou em Santos, cresce em mim a devastadora constatação que a dita Humanidade é uma experiência que não vingou, não deu certo no Planeta Terra mesmo depois de milhares e milhares anos de volteios e andanças.

Desolador.

Temos muito o que aprender, um infinito a evoluir.

Talvez um dia cheguemos lá…

Enfim…

Para não ficarmos só no ramerrame das lamentações, trago-lhes uma lenda do extenso folclore das redações jornalísticas.

Como lenda, bem sabem, nunca foi provada, tampouco foi desmentida.

Mas, sempre vale à pena contá-la.

Naquele tempo…

Dizem que, certa noite, alta madrugada, o doutor Assis Chateaubriand ligou para a redação de um de seus tantos jornais – há quem garanta que foi o Diário de Noite, onde este humilde escrevinhador deu seus primeiros e tíbios passos na amarfanhada carreira, mas juro que não sou eu o protagonista – e exigiu do jornalista plantonista que trocasse a manchete da edição, pois acabara de saber que tal ministro seria defenestrado na manhã seguinte.

Como podem ver, nenhuma novidade até aqui.

Ministros voam e pousam no famigerado pombal de ilusões que são os ministérios do governo e dos governos. Desde sempre é assim.

Acontece que o poderoso Chatô, nosso Cidadão Kane primeiro, esqueceu-se de se identificar ao telefone. Ávido por dar a notícia em primeiríssima mão.

O jornalista da vez estava com a paciência na Lua e as páginas do jornal nas rotativas prestes a serem impressas.

Além do que, ele imaginou um trote dos colegas a bebericar umas e outras no bar da esquina e a debochar do seu dia da marmota.

Não deu a mínima. Conhecia os seus; pior, era um deles. Aprontava poucas e boas quando, noite adentro e uns goles a mais, folgava no tradicional boteco, ponto de encontro da reportada após o expediente.

Não pensou duas vezes.

Desligou na fuça do dono jornal sem saber, óbvio, que era o dono do jornal o dono da voz e da fuça do outro lado da linha.

Chatô ligou de novo.

Nosso herói apenas fez apenas um muxoxo:

– Ah, não…

Falou um palavrão e desligou.

Habituado a ter suas ordens cumpridas sem hesitações, o patrão ligou pela terceira vez.

Aumentou o tom, a rabugice e o sotaque nordestino de Umbuzeiro:

– Pare as máquinas! Mude a manchete já. Estou mandando!

Silêncio do outro lado da linha.

Pelo tom e pela empáfia, o jornalista desconfiou.

Será que seria?

Ai, ai, ai…

Apreensão e silêncio.

Até que, do outro lado, veio a ordem (que não deixou a menor dúvida) e o questionamento:

– Faça o que eu mando, já! O senhor sabe com quem está falando?

Sabia, sim, agora. Só agora.

Porém, perdido por um, perdido por mil.

– Que se dane!!! – disse o jornalista (ou algo no gênero).

– Aqui, é o Doutor Assis Chateaubriand, o proprietário dos Diários e Emissoras Associados. Alguma dúvida em fazer o que lhe ordenei?

Nenhuma dúvida.

Só que o jornalista era casca também.

Cenho franzido, sem outra alternativa, retrucou como pôde, e no mesmo tom:

– E o senhor, por acaso, sabe com quem está falando?

Quanta audácia, Chatô disse indignado:

– Não! Mas, prepare-se para ser demi…

Não conseguiu terminar a fala. Teve a frase interrompida por duas coisas:

1 – o alívio do interlocutor:

– Ufa! Ainda bem!

2 – o ruído do telefone ao ser abandonado fora do gancho..

“pi, pi, pi, pi…”

 

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