Foto: Divulgação
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Temo decepcioná-los, caríssimos leitores.
Perdoem-me.
Não tenho como resenhar para os amigos leitores, como induz a foto acima, o ir-e-vir do filme O Agente Secreto que deu o prêmio de Melhor Ator ao brasileiro Wagner Moura no Festival de Cannes deste ano.
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Moura é fera – e, aqui, digo o óbvio.
Tem carisma, é sedutor em cena e está à vontade no papel do personagem Marcelo/Armando que o roteirista e diretor Kleber Mendonça Filho (também premiado em Cannes) desenvolveu “especificamente” para a performance do ator baiano.
Toda a ação está centrada no personagem e no incandescente final dos anos 70.
(Para ser mais preciso, em 1977.)
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Vou-lhes dizer: foi aí, exatamente neste ponto que me perdi.
Por isso, creio, a necessidade de assistir à trama por uma segunda ou, quem sabe?, terceira vez para me aprofundar no rico painel de detalhes e pistas e desenlaces e não-desenlaces que propõem a obra que deve representar o Cinema Brasileiro na cerimônia do Oscar.
Ah, os nos 70!
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Tento explicar, se é que é possível.
Tanto a cenografia quanto o figurino, a caracterização dos personagens – enfim, a detalhada reconstituição histórica se mostra tão precisa e preciosa que, em determinado momento, me foi incontrolável o impulso de viajar em minhas próprias lembranças da época.
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Sou um nostálgico, por natureza.
Vai daí que…
… ao olhar aquelas cenas – mesmo as mais contundentes – trouxe-me a incrível sensação de que contava-se ali um tanto da história de cada um de nós, do que presenciamos e vivenciamos, naqueles idos.
Tínhamos, então, nossos 20 e poucos anos de sonhos e planos e de América do Sul.
Que sensação lúdica e ameaçadora!
Em meio aos Fuscas e Opalas pelas ruas, em meio ao som hi-fi dos discos de vinil nas eletrolas, em meio aos cabelos longos e desgranhados e às calças bocas de sino, em meio ao contexto de medo e censura do autoritarismo, em meio a tantas lembranças, a tantos apuros, éramos o que meu primeiro editor, Tonico Marques, nos definia: jovens sonhadores e algo inconsequentes. E seguíamos em frente entre a trangressão e os fios soltos das amarras das convenções.
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Acreditem!
Foi um tempo libertário – e libertador, apesar de todos os pesares.
De vislumbrar o futuro (que talvez já tenha ficado no passado, olhem o enrosco do passar dos anos).
Tempo de conquistas, creiam.
(E a fizemos, sim, e muitas!)
Do passo e do caminho.
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Assim vivíamos à espreita…
em alerta (mas, nem sempre, pois não éramos escoteiros)…
Vivíamos, sim, à espera…
À procura de algo…
Poderia ser bom, poderia ser melhor ou…
… Sei lá, se não descobrimos naquela época, não seria agora.
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TRILHA SONORA
O ‘gatilho’ para a espiral de lembranças se dá quando, em cena, ouve-se a voz do locutor de uma emissora de rádio anunciar a próxima atração:
“Com vocês, a música do grupo Chicago”.
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