A música popular ditou o tom e o ritmo ao Brasil ensimesmado dos anos 70.
Éramos o terceiro mercado fonográfico do Planeta.
Imagine!
Traduzindo: aqui se vendia discos (vinis) pra caramba.
As multigravadoras olhavam o novo Éden com planilhas afiadas para grandes lucros e, vale ressaltar, nos permitiam alguns sonhos e devaneios.
O cantor/compositor Fagner chegou a ser diretor artístico da poderosa CBS. Gravou com Patativa de Assaré, um disco histórico.
Havia espaço para as mil e uma tendências do nosso cancioneiro popular.
II.
A partir da segunda metade da década, a Imprensa começou a respirar ares de libertação. Do afrouxamento da censura (79), da proclamação da anistia ampla, geral e irrestrita (77), os jornais alternativos se multiplicavam – muitos dedicados exclusivamente a divulgar e analisar o que acontecia neste segmento do cenário cultural.
O papel da crítica especializada era um em meados dos anos 60. O de separar o joio do trigo, em termos de música. Já nos anos 70 o foco maior das reportagens da época era dar espaço, voz e vez, àqueles cantores/compositores que, vindos de diversas regiões do Brasil, não conseguiam espaço nos grandes meios de comunicação para mostrar os novos tempos da MPB.
A chamada Geração de Brigas – composta por Ivan Lins, Gonzaguinha, João Bosco, Alceu Valença, Geraldinho Azevedo, Zé Ramalho, o pessoal do Clube da Esquina, os Novos baianos, Fagner, Belchior, Ednardo, Walter Franco, entre outros – viveu plenamente este momento – e, por vezes, só sobreviveu graças à essa parceria cúmplice entre músicos e imprensa.
O chamado ‘circuito universitário’ abrigou, por longos anos, essa turma recém-chegada ao Sulmaravilha.
III.
Nos anos 80, com a redemocratização prestes a ser consolidada e a postura mais libertária do chamado b-rock, houve uma mudança no papel da imprensa.
Pareciam ser uma coisa só… Músicos e jornalistas especializados viviam o mesmo ambiente, a mesma causa.
“Ideologia, eu quero uma pra viver”.
Para a minha geração de repórteres, o Jornal da Tarde foi uma grande referência em termos de cobertura para a área. Maurício Kubrusly e Ezequiel Neves era os tops do caderno. Wladimir Soares, também. A Veja, de Tárik de Souza, e o tabloide Rolling Stones, versão nativa, de Ana Maria Bahiana, eram outros veículos que pontuavam. Mas, havia mais, muito mais.
Eu mesmo trabalhei em dezenas deles…
IV.
Todas essas recordações me invadem enquanto o estudante Diego Guimarães da Silva faz sua apresentação da monografia “O Papel da Revista Musical “Bizz” no Jornalismo Cultural”. É o trabalho de conclusão de curso do jovem jornalista e, fica claro, sua paixão pelo tema.
Sentimento idêntico ao que me moveu naqueles idos.
Hoje, estou na banca de avaliação e fico sinceramente comovido por ter participado – infimamente, diga-se – desta história. Tanto naqueles anos inesquecíveis, como agora na função de professor.
E, confesso, sou obrigado a concordar com o comentário que ouço ao final da exposição.
Alguém da sala, movido a pura nostalgia, deixou escapar entre um suspiro e outro:
“O mundo era mesmo um charme”.
O que você acha?