Foto: Arquivo Pessoal
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Os rapazes de Copacabana, belos espécimes de nossa sadia juventude, bem nutridos, bem fumados, bem motorizados, erguem o general em triunfo. Vejo o bravo cabo de guerra passar em glória sobre minha cabeça. Olho o chão. Por acaso ou não, os dois paralelepípedos lá estão, intatos, invencidos, um em cima do outro.
Vou lá perto, com a ponta do sapato tento derrubá-los. É coisa relativamente fácil.
Das janelas, cai papel picado. Senhoras pias exibem seus pios e alvacentos lençóis, em sinal de vitória. Um cadillac conversível para perto do “Six” e surge uma bandeira nacional. Cantam o Hino também Nacional e declaram todos que a Pátria está salva.
Minha filha, ao meu lado, exige uma explicação para aquilo tudo.
– É carnaval, papai?
– Não.
– É campeonato do mundo?
– Também não.
Ela fica sem saber o que é. E eu também fico. Recolho-me ao sossego e sinto na boca um gosto azedo de covardia.
CARLOS HEITOR CONY (1926/2018) em Da Salvação da Pátria, crônica publicada em 02/04/1964, no jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro. É considerado pelos historiadores como o primeiro artigo de um jornalista a deflagrar um olhar crítico e contrário ao Golpe de 64.
Leia AQUI sua íntegra.
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Ao longo dos primeiros ano da ditadura militar, Cony foi perseguido, sofreu ameaças e preso por seis vezes por suas contundentes crônicas de oposição ao Golpe.
Esses textos estão reunidos como um dos volumes – A Revolução dos Caranguejos – da coleção Vozes Golpe – Memória, editados pela Companhia das Letras em 2004.
Quem preferir os textos na edição original, estão na coletânea O ato e o fato, reimpresso em sua nona edição pela Editora Nova Fronteira, em 2014.
Importante: qualquer coincidência, 56 anos depois, não é mera coincidência…
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clarice
5, junho, 2020me sinto roubada…usurpadores…como se a patria fosse so pra eles, como se nesta nação 70% não existissem e nem fossem dignos da “vossa majestade”.