Foto: Musei di Venezia
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Amigo Nestor:
É sempre com estimada alegria que recebo suas notícias.
Bom ler você no e-mail.
Permita-me lhe responder por meio do Blog.
Acredito ser um jeito bom de compartilhar nossa amizade com os amáveis cinco ou seis leitores.
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A princípio, fico feliz em saber que aí, onde você reside (arredores de Brugges, na Bélgica) já se retoma a normalidade da vida. Ainda que com os cuidados necessários pós pandemia.
Bom viver num país em dia com os preceitos cidadãos e civilizatórios.
Respeitar para ser respeitado. Muito bom.
Por aqui, amigo, ainda estamos longe de tal etapa.
Lamentável – e tragicamente.
Chegaremos lá?
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Você faz um oportuno reparo que pouco (quase nada) escrevo sobre a real situação da doença no Brasil e também sobre o desgoverno que nos abate.
Então, meu camarada, vou lhe explicar: tento dar um respiro a quem me lê – e também a mim mesmo.
A coisa aqui não anda nada bem.
Os noticiários, por força do dever e função, informam sobre índices aterradores da primeira à última edição.
Até ontem foram mais de 56 mil mortes por covid-19.
Outra marca que nos destroça: maio foi considerado o mês em que morreram mais brasileiros em todos os tempos. Em torno de 124 mil.
É de perder o fôlego, amigo. O fôlego, o rumo, o prumo – e quase quase as esperanças.
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Faz sentido o que você diz.
Que a reputação do nosso governo por aí é péssima.
(Por aqui, também.)
Que as autoridades daí alertam a incautos turistas e investidores para o risco-Brasil, pois as previsões não são nada alentadoras.
(Também fazemos o mesmo diagnóstico.)
Mas, mesmo assim, a gringaiada tem um carinho muito grande para com o Brasil e o povo brasileiro. Ainda.
Daí, você deduz o porquê evito bater ainda mais nessa desatinada tecla no Blog.
Merecemos algum espaço para preservar nossa sanidade mental, não?
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Sobre a ameaça à democracia, o que posso lhe dizer?
Anda à solta. Um risco iminente.
Aliás, essa descontrução, creia, vem de antes da malsinada pandemia.
Bem antes…
Tomou forma, contorno e olivas cores gradativamente. Foi se aprochegando.
Com muitos dos nossos, creia também, aplaudindo e saudando a ideia.
Parece que existem dois ou muitos brasis.
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Algo que uma cantora de renome me disse anos e anos atrás, no tempo em que eu era repórter, e que, sinceramente, preferi não acreditar.
Ela me falou dessa impressão em off – e argumentou, com alguma tristeza:
– Viajo pelos quatro cantos do país, sei o que falo. Nossa identidade nacional é uma abstração.
Juro que relevei;
– Impossivel, acho que não…
Desconfio que ela também preferiria que assim não fosse.
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A resistência?
Diria que anda por aí um tanto espalhada e sem projeto coeso.
Hoje o jornal Folha de S.Paulo tenta dar início a uma jornada em defesa da democracia. Aos moldes do que fez em uma tarde de sábado em novembro de 1983 e que se consolidou, depois, como o marco inicial das Diretas Já.
Há outras tantas movimentações nesse sentido.
Todas bem-vindas.
Mas, ainda carecem de força e unicidade.
Os últimos anos cravaram marcas profundas de discórdia entre os chamados setores progressistas.
Está muito difícil retomar o sonho da construção de um Brasil íntegro, socialmente justo, digno de todos os brasileiros, como bem ouvi, lá em idos tempos, do magnífico e saudoso Gianfrancesco Guarnieri.
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Mesmo assim, amigo, estamos aí.
Cético no pensamento, otimista na ação.
Desesperar jamais!
E salve Gilberto Gil que, ontem, completou 78 anos.
Andemos com fé, irmão!
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clarice falasca
27, junho, 2020Que assim seja!! Desesperar jamais!! Andar com fé eu vou, a fé não costuma falhar!