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O sequestro, o repórter e a Nova Era…

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Foto: Arquivo Pessoal

Vocês lembram o sequestro do apresentador Sílvio Santos?

Foi em agosto de 2001.

E lá se vão 20 anos…

Lembro bem dessa tarde – e lhes explico o porquê:

Foi meu primeiro enfrentamento com a chamada Nova Era da notícia em tempo real.

O chão tremia na Velha Redação. Um tanto por causa desgastado assoalho de tábuas corridas (já entrados em entrado em décadas de vida), outro tanto pela correria insana do ‘fechamento’ de mais uma edição da nossa combativa Gazetinha.

Não me perguntem, pois não sei responder, como eu dava conta de ler as matérias que os repórteres traziam, ajustá-las ao espaço reservado das páginas, classificá-las por assunto e editorias, cobrar pelas fotos que sempre atrasavam, rascunhar o desenho da página, entregar todo esse conteúdo para a finalização da diagramação, dar uns pitacos de como queria o destaque dessa ou aquela reportagem – e, de quebra, em meio a tantas e tamanhas, redigir minha coluna semanal e xodó, o Caro Leitor.

Nesse dia, pela primeira vez, em mais de 20 anos de jornalismo, eu enfrentei uma situação inédita – e insólita.

Escrever sobre uma notícia que acontecia no exato instante em que eu a redigia.

Foi na base da intuição mesmo.

Diante de todas as tarefas e do computador, procurei alternar, ainda atônito, o batucar do texto da minha coluna com as informações dos jornais online e acompanhava, via rádio e TV, o desenrolar do pesadelo do Silvio Santos — refém do sequestrador Fernando Dutra Pinto em sua própria casa no bairro do Morumbi.

Eu que vivia um dilema, amigos.

Há coisa de semanas, eu assistira, algo incrédulo, uma palestra sobre o futuro do jornalismo impresso diante dos avanços das plataformas digitais que já atuavam em tempo real. Um dos renomados palestrantes (tão renomado, que sequer lhe lembro o nome) enfatizou que o jornal impresso já representava, na verdade, “o dia de ontem consolidado”.

“No mundo novo, vale o hoje o agora” – provocou o tal.

De ascendência calabresa, sou teimoso por tradição.

Na hora, tomei a previsão como algo pessoal.

São contra o jornal impresso, desabafei comigo mesmo.

Não imaginei que tão cedo vivenciaria tamanho desafio: escrever sobre o fato que ainda não se consumou, mas que o meu caríssimo leitor, no dia seguinte, nem precisaria me ler, pois já sabia do desenrolar da história e suas consequências.

Foi um sufoco.

Era um outro Brasil, eu sei.

O mundo era outro, ok.

Hoje, não paira a menor dúvida sobre quem manda prender ou manda soltar em termos comunicacionais.

Companheiros, me espanto só de recordar do passo e do caminho.

Da ruidosa máquina de escrever ao celular (que vez ou outra substitui meu instável notebook), da coluna semanal ao blog diário, foi no balançar da carroça, creio, que os melões e as soluções se ajeitaram – e cá estou.

Melhor seria dizer, cá estamos. Visto que, cada um à sua maneira fez seus enfrentamentos.

Bem, deixemos minhas divagações de lado que, de resto, o amigo e/ou amiga, certamente, está melhor informado do que eu sobre essas modernidades – redes sociais, Instagram, Face book, Tik Tok e cousa e lousa e maripo(u)sa.

Voltemos àquele dia.

Como terminei a coluna?

São Paulo viveu um Dia de Cão. A cidade vivia assolada por uma onda de sequestros que a todos assustava.

No mesmo momento que SS enfrentava seu infortúnio, outras três ocorrências do gênero aconteciam. Uma delas, inclusive, no mesmo bairro onde Sílvio morava (mora?), o Morumbi.

Foi a deixa.

Diante desse contexto, levei o texto até onde pude, fiz um arrazoado da onda de violência em Sampa – e a conclusão veio com o vaticínio que o jornalista Mino Carta fez ainda nos anos 70, no Jornal da República.

A partir de um fato corriqueiro àquela época (as longas filas que se formavam diante dos postos quando a gasolina subia de preço), Mino fez uma avaliação do quadro de desmandos políticos e sociais do País, que ainda vivia sob o tacão da ditadura, e preconizou: caminhamos para a barbárie, para os confrontos urbanos de todos os naipes e tipos, mas sem nenhuma ideologia, sem nenhuma razão; apenas por uma questão de sobrevivência.

Não foram exatamente essas as palavras do jornalista.

Porém, o alerta ficou e soa ainda hoje, acreditem, como a mais terrível das verdades.

E lá se vão 20 anos…

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