Eu tinha 26 anos quando Elvis Presley morreu, aos 42.
A data: 16 de agosto de 1977.
A notícia causou um grande corre-corre na Redação onde humildemente dava meus primeiros passos como um esforçado repórter do Caderno de Cultura.
Escrevia sobre música popular brasileira em diversos pasquins que, à época, existiam – muitos, de forma, quase artesanal. A mercado fonográfico era muito forte no Brasil, o terceiro em todo o mundo. Semana sim, outra também, surgiam jornais e revistas, digamos, ‘especializados’ na temática.
Intui, então, que, por ser de outra ala, não seria convocado para fazer o obituário do Rei do Rock. Havia gente mais competente para tocar o assunto, embora eu também o admirasse como um dos precursores de toda as transformações que os jovens, do mundo todo, viveram desde os anos 50.
Foi o que aconteceu. Ninguém me chamou, e eu também não me ofereci.
Não fiquei nem alegre, nem triste.
Mas, não fiquei indiferente.
Queria ter dado meu recado…
II.
É bem verdade que o sucesso dos Beatles, a partir de 63/64, mudou o foco e o gosto da garotada e, nessa altura da década 70, Elvis era visto com alguma desconfiança. Muitos agora o consideravam – ele, suas canções e suas roupas – um tanto brega (se me perdoam a palavra que acho pra lá de discriminatória) e absurdamente fora do tom para a então chamada geração hiponga, aquela do dedo em V e do slogan “paz e amor”.
Não lembro se, à época, tive essa percepção.
Talvez não.
III.
Ainda entendia o Elvis como aquele ídolo dos meus tempos de criança. Uma figura carismática, o cantor que engatava um sucesso após o outro, o cara que quebrava todo o decoro daqueles tempos tristes, de pós-guerra, com um requebrado de causar faniquitos (era assim mesmo que se dizia então) nas moçoilas que se descabelavam ao vê-lo. Elas ficavam incontroláveis…
No Brasil, era possível identificar os sucedâneos de Elvis. Demétrius, Wilson Miranda, Sérgio Murilo, Toni Campelo, Ronnie Cord, entre outros. Tinham lá seu brilhareco. Mas, sem chance, não lhe faziam frente.
IV.
De certa forma, nos meus doze e treze anos, eu gostaria de ser como ele, mais precisamente o personagem que representou no filme “Viva Las Vegas” e que encantou e conquistou a mocinha da trama, a lindíssima Ann Margret.
Me perdoem o tom confessional do texto de hoje.
Mas é que desde criança tenho essa tendência de ficar imaginando coisas…
V.
Das canções de Elvis, a que mais gosto é a leitura que deu para “Bridge Troubled Water”, de Simon & Garfunkel. Mas reconheço que os primeiros roquezinhos – “Tutti Frutti”, “Prisioneiro do Rock”, entre outros – também fizeram minha cabeça.
Tenho uma única frustração proporcionada por Elvis: por mais brilhantina que usasse no cabelo, nunca consegui ter um topete remotamente igual ao do Rei do Rock. Assim que saía à rua, à primeira brisa, o ‘bichão’ já despencava sobre a testa… Ô tristeza…
O que você acha?