“Eu conheço bem o Jorge.
Desde o Beco, desde os bicos, em pleno 1962, era já ele aquele cara superquente, que trazia na sua música toda a autenticidade de um talento puro, quase único em sua era.
E já era o mesmo rubro-negro irremediável, ponta-direita do infanto-juvenil do Mengo ou na batida negrona de seu violão diferente.
De saída com Mas Que Nada e Por Causa de Você, Menina entortou a cuca de muito cronista: como aturar letras tão óbvias, temas tão simples?
Para o povo, porém, seu estilo primitivista, baseado em opulento e vigoroso engenho rítmico, foi a esperada solução para a calma e placidez da então florescente bossa-nova. Rica em soluções melódico-harmônicas, mas sem maior apelo em sua estrutura rítmica, a BN emergia para o mundo e estacionava para o nosso grande público.
E brasileiro é ritmo em tudo.
Futebol, mulheres, mulheres, futebol, tudo pra frente, tudo quente, nada devagar.
E a música?
Metade mulher, Metade futebol, também pedia aquela marcação elétrica, aquele ritmo embalante que a nossa condição étnica exigia.
Daí o seu grande agrado.
A rítmica marcante de suas composições aliada ao incrível balanço negróide de seu violão sui generis tornaram suas singelas letras meras pontuações em ritmo integradas em um todo essencialmente selvagem e, ao mesmo tempo, lírico.
É sobretudo ritmo.
Se formos verificar o resultado de suas músicas no panorama internacional, veremos que – pouquíssimas vezes – um compositor do Brasil foi tão bem aceito nos mais variados mercados do planeta.
Seus hits pela humanidade – Mas Que Nada, Chove Chuva, Saiubá (Por Causa de Você, Menina), Que Pena, País Tropical, os principais – lhe trouxeram uma consagração que sua personalidade até hoje não aceita. Ele pensa que nada do que faz é tão diferente. Mas, nós sabemos que Jorge inovou.
Desde a primeira gravação até este disco foi um longo caminho: sucesso, espanto, retraimento (natural), inovação, consagração, retorno, comunicação, aceitação popular, muito ritmo, sucesso novo e, por aí em diante, o futuro azul.
Quem mais nos poderia fazer ver a verdade definitiva, a derradeira certeza da terra em que vivemos?
Acho sensacional descobrir que, no fim das contas, apesar de tudo, habitamos “u pa tro pi, abençoá po Dê e boni po naturê (má que belê)”
É ou não é um cara bacana?”
*Texto do produtor musical Armando Pittigliani, na contracapa do disco Jorge Ben, lançado em 1969.
…
Um dos grandes trabalhos na longa e brilhante carreira de Jorge Duílio Lima de Menezes, carioca do bairro de Rio Comprido, de idade incerta e não sabida. Há quem afirme que é da geração de 42. Ele próprio diz que é de março de 45. Numa entrevista com Tim Maia em meados dos anos 80, alguns repórteres – eu, entre eles – ouviram do irreverente cantor que o amigo Ben era, na verdade, de 1941.
– Perguntem a idade pra ele que ele fica puto da vida.
Enfim…
Vale como curiosidade, e provocação.
Porque a obra benjorniana não tem idade. É sempre atual.
Senão vejam as preciosidades no repertório do disco que completa 50 anos:
Lado A
Criola
Domingas
Cadê Tereza
Barbarella
País Tropical
Lado B
Take it easy my brother Charles
Descobri que sou um anjo
Bebete vãobora
Quem foi que roubou a porcelana chinesa que a vovó ganhou da baronesa?
Que pena (Ela já não gosta mais de mim)
Charles Anjo 45
…
Vale a pena ouvir e (re)ouvir. Hoje e sempre…
O que você acha?