"O futuro permanece escondido até dos que o fazem" (Anatole France)
01. Sempre em período pré-eleitoral — e queiramos ou não, já começamos a viver um deles — a Redação de Gazeta do Ipiranga tem um cotidiano diferente. Há um freqüente entra e sai de candidatos e assessores. Alguns com as melhores das intenções, outros nem tanto. Mas, invariavelmente, todos se auto-reconhecem como um candidato diferente de tudo o que se vê na praça. Por dever de ofício, sempre ponho em dúvida afirmações generalizantes e autos-elogios.
02. Às vezes, ocorre uma situação singular. Por exemplo: no mesmo dia do longínquo ano de 1998, dois nomes de extraordinária relevância para a História contemporânea do País estiveram em GI para falar de suas candidaturas. Almino Affonso concorria ao Senado e o saudoso Franco Montoro à Câmara Federal. Embora em fronts diferentes (um no PDT, outro no PSDB), ambos foram exemplos vivos da luta pela redemocratização do País que vingou especialmente nas décadas de 70 e 80 e que projetou o Brasil que aí está…
03. O leitor mais atento, por certo, já entendeu porque retomo esse exemplo do passado e sabe que, a partir dele, quero projetar o futuro. 2002 bate à nossa porta, com eleições gerais para presidente, governador, senador e deputados estaduais e federais. Trata-se de mais uma vez tentarmos aprumar o País que hoje vive dias conturbados com índices comprometedores em termos de qualidade de vida. Temos, portanto, toda uma carga de responsabilidade pelo futuro do País. Não podemos fugir dela…
04. Sei que, ao leitor, pode parecer confuso. Comecei enaltecendo as figuras de Almino e Montoro e, a seguir, falo de um Brasil que aí está e que, sabemos nós, a cair pelas tabelas. Mas, a constatação é inevitável. Lutamos pela democracia, mas só essa conquista não foi (nem poderia ser) suficiente para garantir um mínimo de cidadania a todos os brasileiros. Cidadania, aqui, entendo por acesso à educação, moradia, emprego, salário digno, saúde, segurança, entre outras conquistas básicas.
05. O Brasil pós-Diretas não soube zelar pelos seus filhos, não soube olhar para o futuro. E por culpa, única e exclusiva, das chamadas elites que fingem se alternar no Poder, mas que, na verdade, estão sempre ao redor do Palácio do Planalto, induzindo, direcionando, mandando prender e mandando soltar…
06. Seja qual for o habitante da ilustre morada, são eles que impõem as regras do jogo. Quem não se lembra do socorro aos bancos, logo no início do Governo FHC? E a junção de forças em prol da emenda da reeleição, a quem atendeu? E as privatizações?
07. Aliás, uma característica da próxima eleição é a máxima chacriniana. Confundir é melhor do que explicar. Exemplo claro é a ciranda de presidenciáveis do lado governista — Serra, Paulo Renato, Tasso — e das articulações que põem Roseane Sarney entre os nomes mais cotados para que seja preservada a aliança que dá sustentação a FHC. Em outra pista, mas seguindo para o mesmo rumo, está o pessoal do PMDB que não sabe se permanece na aliança ou se topa a candidatura do independente Itamar Franco. E ainda a gente nem falou da candidatura Ciro Gomes e dos eternos postulantes Enéas e Paulo Maluf…
08. Vem confusão pela proa. É certo, porém, que a postura mais light do petista Luiz Inácio Lula da Silva, o mais cotado nas pesquisas de intenção de votos, está confundindo nossos figurões. De alguma forma, desmente a fala do empresário Antônio Ermírio de Moraes que, às vésperas do pleito de 98, foi enfático: diante da crise internacional, se entrar um candidato despreparado, como o Lula, aí vem uma bomba de hidrogênio. Afirmação que o brasilianista Thomas Skidmore também, àquela época, não deixou por menos. Fernando Henrique não é o líder para uma cruzada contra a miséria que, sabe-se hoje, atinge a 30 milhões de brasileiros.
09. Afirmação por afirmação, especialmente agora que o mundo anda de pernas para o ar, fico com a que li num pára-choque de caminhão que circulou nesta semana pelo Ipiranga: "A quebradeira é tanta que, se o marido chamar a esposa de bem, o banco vem… e toma!"