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A Semana do Presidente

01. De olho na concessão que posteriormente originou o SBT, o empresário e apresentador Sílvio Santos criou um quadro, em seu programa dominical, que reverenciava A Semana do Presidente, cargo então ocupado pelos ditadores de plantão. Essa bajulação explícita deu tão certo que SS ganhou o canal (ocupado até então pela extinta e pioneira TV Tupi) com folgas, derrotou inclusive o interesse da poderosa Editora Abril e do tradicional Grupo JB. Por via das dúvidas, mesmo após a redemocratização do País, o homem do Baú resolveu manter o scat para alegria incontida de Sarney, Collor, Itamar e do reeleito presidente Fernando Henrique Cardoso. Além de todas qualidades que sobejamente conhecemos, Sílvio Santos deve ser um profundo conhecedor dos segredos da alma humana. Sabe que nada envaidece — e cega — mais do que o Poder. Houve até quem já escrevesse que não há homem público que resista a uma bem dosada massagem no ego. E o nosso presidente, sempre tão satisfeito consigo mesmo e seus arroubos, não foge à regra…

02. Não me consta que o quadro tenha hoje o mesmo IBOPE que em anos anteriores. Muito provavelmente se uma emissora concorrente colocar o Padre Marcelo e sua aeróbica de Jesus em cena, restam poucos telespectadores para as proezas de FHC e asseclas. Mesmo assim, estou sinceramente preocupado com a produção do programa. A filosofia do Patrão é invariavelmente encher a bola do ocupante do trono, quer dizer da cadeira presidencial. E, olhe, com todo respeito, esta foi uma semana que Fernando Henrique gostaria de esquecer. Recebeu bordoadas (merecidas, aliás) de todos os lados.

03. Uma rápida vista d’olhos nos jornais da semana. Para começar, foi no mínimo deselegante (justamente ele que recentemente pousou para as agências internacionais usando um garboso terno beje) ao criticar os benefícios que as mulheres recebem da Previdência. Algo assim como elas se aposentam mais cedo e, em média, vivem mais do que os homens. Portanto, dão mais despesas ao Governo e isso influir no déficit público. Outra bordoada considerável: o senador Antônio Carlos Magalhães "bateu" duro num dos principais ministros de FHC, José Serra. E o presidente fez que não ouviu. Já existe a versão que ACM é o manda-chuva do atual (e futuro) Governo. Quando o presidente prefere definir tudo como "intrigalhada" e não cobrar firmemente os desafetos, dá ensejo para que essa versão prospere e se consolide.

04. Também não foi nada alentador ver a primeira-dama, Dona Ruth, sendo hostilizada na Uni-Rio por estudantes que, em protestos, atiraram moedas e notas em sua direção. FHC os chamou de "mal-educados". também foram fortes as críticas ao aumento da gasolina e demais combustíveis que entra hoje em vigor. É mais um — e pesado — acharque ao bolso do contribuinte. E vem mais por aí…

05. Nada, porém, se compara à derrota que sofreu na noite de quarta-feira no Congresso. Os parlamentares chutaram para o alto a MP que previa o aumento da contribuição previdenciária dos servidores públicos ativos e estenderia a cobrança aos inativos. A derrota foi fragorosa: 209 votos contra 187, com 7 abstenções. O Governo "profundamente decepcionado" prometeu reapresentar a mesma proposta "no início do ano que vem".

06. Foi uma semana dificil para o presidente, os produtores do quadro A Semana do Presidente e os brasileiros que já intuem os tempos turbinados que estão por vir. O clima de fim de feira do primeiro mandato já dá uma idéia do que nos espera…

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